segunda-feira, 20 de junho de 2011

O CÉU E O INFERNO


Autor: J. Herculano Pires

Allan Kardec apresenta a verdadeira face do desejado Céu, do temido Inferno, como também do chamado Purgatório. Põe fim às penas eternas, demonstrando que tudo no universo evolui.

Lendo-se este livro com atenção vê-se que a sua estrutura corresponde a um verdadeiro processo de julgamento. Na primeira parte temos a exposição dos fatos que o motivaram e a apreciação judiciosa, sempre serena, dos seus vários aspectos, com a devida acentuação dos casos de infração da lei. Na segunda parte o depoimento das testemunhas. Cada uma delas caracteriza-se por sua posição no contexto processual. E diante dos confrontos necessários o juiz pronuncia a sua sentença definitiva, ao mesmo tempo enérgica e tocada de misericórdia. Estamos ante um tribunal divino.

Os homens e suas instituições são acusados e pagam pelo que devem, mas agravantes e atenuantes são levados em consideração à luz de um critério superior.

A 30 de Setembro de 1863, como se pode ver em Obras Póstumas, Kardec recebeu dos Espíritos Superiores este aviso: "Chegou a hora de a Igreja prestar contas do depósito que lhe foi confiado, da maneira como praticou os ensinamentos do Cristo, do uso que fez de sua autoridade, enfim, do estado de incredulidade a que conduziu os espíritos". Esse julgamento começava com a preliminar constituída pelo Evangelho Segundo o Espiritismo e devia continuar com O Céu e o Inferno. Dentro de dois anos, em seu número de Setembro de 1865, a Revista Espírita publicaria em sua seção bibliográfica a notícia do lançamento do quarto livro de Codificação Espírita: O Céu e o Inferno. Faltava apenas A Gênese para completar a obra da Codificação da III Revelação.

Dois capítulos de O Céu e o Inferno foram publicados antecipadamente na Revista: o capítulo intitulado Da apreensão da morte, vigorosa peça de acusação, no número de Janeiro de 1865, e o capítulo Onde é o Céu, no número de Março do mesmo ano. Apareceram ambos como se fossem simples artigos para a Revista, mas o último trazia uma nota final anunciando que ambos pertenciam a uma "nova obra que o Sr. Allan Kardec publicará proximamente". Em Setembro a obra já aparece anunciada como à venda.

Kardec declara que, não podendo elogiá-la nem criticá-la, a Revista se limitava a publicar um resumo do seu prefácio, revelando o seu conteúdo. Os capítulos antecipadamente publicados aparecem, o primeiro com o mesmo título com que saíra e o segundo com o título reduzido para O Céu.

Estava dado o golpe de misericórdia nos dogmas fundamentais da teologia do cristianismo formalista, tipo inegável de sincretismo religioso com que o Cristianismo verdadeiro, essencial e não formal conseguira penetrar na massa impura do mundo e levedá-la à custa de enormes sacrifícios. Kardec reafirma o caráter científico do Espiritismo. Como ciência de observação a nova doutrina enfrenta o problema das penas e recompensas futuras à luz da História, estabelecendo comparações entre as idealizações do céu e do inferno nas religiões anteriores e nas religiões cristãs, revelando as raízes históricas, antropológicas, sociológicas e psicológicas dessas idealizações na formulação dos dogmas cristãos.

A comparação do inferno pagão com o inferno cristão é um dos mais eficazes trabalhos de mitologia comparada que se conhece. A mitologia cristã se revela mais grosseira e cruel que a pagã. Bastaria isso para justificar o Renascimento. O mergulho da humanidade no sorvedouro medieval levou a natureza humana a um retrocesso histórico só comparável ao do nazi-fascismo em nosso tempo. Os intelectuais materialistas assustaram-se com o retrocesso do homem nos anos 40 do nosso século e puseram em dúvida a teoria da evolução. Se houvessem lido este livro de Kardec,

saberiam que a evolução não se processa em linha reta; mas em ascensão espiralada.

Vemos assim que este livro de Kardec tem muito para ensinar, não só aos espíritas, mas também aos luminares da inteligência néo-pagã que perdem o seu tempo combatendo o Espiritismo, como gregos e romanos combateram inutilmente o Cristianismo. O processo espírita se desenvolve na linha de sequência do processo cristão. A conversão do mundo ainda não se completou. Cabe ao Espiritismo dar-lhe a última demão, como desenvolvimento natural, histórico e profético do Cristianismo em nosso tempo.

A leitura e o estudo sistemático deste livro se impõem a espíritas e não-espíritas, a todos os que realmente desejam compreender o sentido da vida humana na Terra. Mesmo entre os espíritas este livro é quase desconhecido. A maioria dos que o conhecem nunca se inteirou do seu verdadeiro significado. Kardec nos dá nas suas páginas o balanço da evolução moral e espiritual da humanidade terrena até os nossos dias. Mas ao mesmo tempo estabelece as coordenadas da evolução futura. As penas e recompensas de após a morte saem do plano obscuro das superstições e do misticismo dogmático para a luz viva da análise racional e da pesquisa

científica. É evidente que essa pesquisa não pode seguir o método das ciências de mensuração, pois o seu objetivo não é material, mas segue rigorosamente as exigências do espírito científico moderno e contemporâneo.

O grave problema da continuidade da vida após a morte despe-se dos aparatos mitológicos para mostrar-se com a nudez da verdade à luz da razão esclarecida.


texto - http://www.oespiritismo.com.br/textos
imagem - espiritodolivro.com

2 comentários:

Norma Villares disse...

Herculano era genial, eu gosto muito de lê-lo. Creio que soube fazer interpretação de forma lúcida e sensata. Apenas, exagerou no tocante a outros escritores, mas faz parte da vida de quem estudou muito.
Excelente, como sempre. Esse blog prima pelas boas leituras.
Posso levar???????????
Grande abraço
Norma

Jorge Nectan disse...

Norma,

ele sabia muito. E muito crítico. Mas sempre bom lê-lo com bom-senso pois aprendemos muito com ele.

Um beijo, Anjo!!!

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