domingo, 30 de maio de 2010

DEUS E A RAZÃO


Afinal, quando todos discordam entre si, ninguém tem razão.

Confúcio


Razão vem do latim, ratio, onis, segundo os dicionários, é a faculdade do raciocínio.

Na antiga Grécia, o termo correspondente era “logos” e estava vinculado à natureza e sua existência. Deve-se a Platão dividi-la em razão intuitiva (noesis), discursiva e conclusiva. Pela ordem: razão imediata; razão do conhecimento através de uma série de raciocínios; e a terceira, aquela que não permite dúvida ante as premissas que a imponham.

O racional, portanto é relativo à razão.

Já na retórica clássica encontraremos a razão demonstrativa que expõe as evidências; a razão argumentativa que usa o raciocínio lógico como proposta de discussão e a razão final, como indica o nome, que enfeixa os conceitos usados como argumento e leva a uma conclusão.

Todavia, para quem pensa que este termo teve sempre tal conotação, e sua origem latina é a mesma, pego anotações do meu pai (1) e transcrevo algumas delas:

Horácio: Ratio – o raciocínio; e mais: Mala ratione facere rem – enriquecer por modo ilícito.

Lucrécio: Navigii ratio – a arte de navegar.

Cícero: Mea est sic ratio – esta é minha opinião; Ratio carceris – motivo dos encarcerados; Pro ratione fructuum – por motivo dos frutos...

Cada qual que conclua à sua moda. Contudo, no presente, somos levados a usar cada termo com seu sentido atual e deixar para os devaneios o que possa ter sido seu significado em tempos antanhos. Atualmente, ter razão é estar certo. É um conceito da Lógica.

Relativamente a Deus e à razão, muitas indagações são feitas; a exemplo: por que Deus fez o mundo? (Qual a razão de tê-lo feito). Que razão nos levaria a concluir pela existência do “Criador”? Há razão em admitir a existência de um Deus único, responsável por tudo? Ele se enquadra na lei de causa e efeito?

E por aí afora.

O nosso objetivo, porém, é analisar a figura de Deus dentro da razão, no sentido lógico, afinal, os embates entre as religiões, as linhas filosóficas e as verdades científicas criam um choque terrível, como vimos anteriormente, nos comentários já publicados.

Até o momento, pelo que se pôde ver, existe um enorme conflito entre os que negam e os que afirmam que Deus exista dentro dos puros conceitos religiosos e tudo indica que as discussões se resumem de acordo com os critérios facciosos de cada expositor.

Quem revolucionou os conceitos a respeito de Deus – para os que queiram, também, ler as entrelinhas – foi um mestre francês, discípulo dileto de Pestalozzi e que se tornou o responsável pela introdução em seu país pela metodologia de ensino do grande didata suíço. Chamava-se Léon Hippolyte Denizard Rivail (1804 – 1869), mas, ao ser convidado por Forrestier, um pesquisador dos fenômenos transcendentais da vida após a morte, a estudar tais ocorrências hoje conhecidas como metanímicas ou mediúnicas – de manifestação do morto –, dedicou-se ao seu estudo codificando uma nova doutrina filosófica de conclusões científicas, como ele próprio define, para correlacionar a existência do Espírito fora do corpo com sua vida encarnatória.

Para não misturar seu estudo pedagógico com suas pesquisas consideradas transcendentais, ele preferiu usar um pseudônimo – Allan Kardec – para expor seu novo trabalho. A essa doutrina ele criou o neologismo em francês de Spiritisme para denominá-la, todavia, no Brasil, ela tomou dois ramos distintos, um deles também conhecido como Roustaingismo, baseia-se na obra “Os Quatro Evangelhos” ou “Espiritismo Cristão” de Jean Baptiste Roustaing e segue a linha docetista de uma antiga igreja otomana do século IV e que fora condenada por bula papal já em velhos tempos.

Como tal, este segmento admite que Jesus não tenha tido corpo carnal e sim, “fluídico”, assim denominado erroneamente, já que fluido é material também. Diverge, em muitas coisas de Kardec e, aboliu da sua obra o principal livro “O Que é o Espiritismo”, considerando apenas cinco obras do codificador às quais denomina – também erroneamente – de “Pentateuco espírita”; assim mesmo, em sua tradução para o nosso idioma modifica muito do seu conteúdo, chegando a adulterar capítulos, no caso do livro “A Gênese” a fim de eliminar os textos de Kardec conflitantes com o aludido docetismo adotado. E um desses capítulos é o referente a Deus.

A segunda corrente, dos “cristãos espíritas” – também chamada de Emmanuelismo –, baseia-se principalmente em obras mediúnicas de Entidades espirituais que, em sua vida terrena, foram ligadas à Igreja e tem como fundamento principal os Evangelhos do Novo Testamento, os quais também os interpreta sem levar em conta as críticas de Kardec feitas em seu livro relativo aos mesmos.

Seus seguidores quase nunca se preocupam com as obras da codificação, estudando quase que exclusivamente os trabalhos mediúnicos destas Entidades.

Há ainda uma série de seitas mediúnicas, conhecidas como “terreiro” que se dizem espíritas e que servem para os detratores apontarem o aludido Espiritismo como coisa do “demo”. Nenhuma delas, porém, sequer estuda a codificação.

A única doutrina que pratica o mediunismo e merece todo respeito, sem se dizer espírita é a Umbanda, fiel a suas origens afro, embora muitos de seus adeptos – e mais do que os que se dizem espíritas – estudem Kardec.

O que ora iremos analisar, das palavras de Kardec, por vezes entrará em choque com ambas as correntes acima citadas porque foge inteiramente aos seus conceitos evangélicos, contrariando, em parte, muitas de suas posições, já que as mesmas “adoram” Deus à moda cristã e têm Jesus como Guia supremo do nosso planeta.

A fim de evitar conflitos, usaremos as obras de Kardec no seu original francês, publicadas em 1868 – Ed. Lacroix – que, segundo Dr. Silvino Canuto Abreu, foram as últimas edições revista pelo mestre lionês. Com destaque para o cap. I de “O Livro do Espíritos” (6ª ed.) e cap. II de “A Gênese” (3ª ed.), além de tópicos do seu principal livro “O Que é o Espiritismo” em sua primeira edição original.

Como todos sabem, os livros de Kardec foram inspirados em perguntas por ele feitas aos Espíritos manifestantes e à hegemonia de respostas dadas por diversos deles, para que pudesse observar uma certa universalidade de opiniões. Vejam a sutileza de indagação e a resposta dada, logo na primeira pergunta que Kardec fez em O Livro dos Espíritos:

P. – Que é Deus?

Ora, isto afasta por completo o conceito de Deus Ente espiritual como um ser humano (à nossa imagem e semelhança), pois, neste caso, a pergunta seria obrigatoriamente “Quem é Deus?” Já contrariando a Bíblia, em ambos os Testamentos e as correntes doutrinarias brasileiras que O têm como um Espírito.

A resposta ainda é mais contundente: – Deus é a inteligência suprema, causa primária de todas as coisas.

Por partes: ser “causa primária” não é ser Criador; o cigarro é, em certas pessoas, a causa primária do câncer pulmonar, mas, não é o criador do tumor maligno. E mais: também defini-Lo como “inteligência superior a tudo” não significa que ele tenha criado nada. Além disso, vamos ver ainda Kardec definindo Deus como “infinito”, portanto, não pode ser contido por um espaço restrito como o cósmico nem nele se manifestar, principalmente porque este se expande. Já, poder-se-ia dizer que Deus contenha o Universo; não se garante tal hipótese, mas, sendo “infinito”, nele está tudo o que possa ser finito e, como tal, Ele é que não cabe no restrito espaço cósmico finito. E em expansão.

Matematicamente, o limite infinito das coisas é o começo de tudo que não tenha origem, portanto, este conceito se enquadra nas Ciências exatas. É também o fim de tudo em condições idênticas. A circunferência é infinita nos dois sentidos: em que ponto ela começaria e em qual terminaria? Pode-se ficar rodando sobre ela infinitamente sem saber onde está seu começo nem onde será seu fim.

Por outro lado, se o Universo, como conseqüência de alguma ação existe, a ele corresponderá uma causa, para que seja dela o efeito ou conseqüência. Ora, sem dúvida: a causa da existência do Universo tem que ser “suprema” – superior a tudo –, primária e compatível com ele; não apenas, ter a configuração restrita dos habitantes de um ínfimo planeta que nada representa perante sua grandeza.

Deus, assim, jamais poderia ser um “Espírito” como os humanos; e Kardec nos mostra, em seus conceitos, que Ele pode ter predicados correspondentes àquilo que sirva de definição para as coisas, todavia, sem jamais possuir caracteres humanos. É assim que no aludido capítulo II de “A Gênese” Kardec tenta descrever a figura de Deus diferenciando-a dos conceitos bíblicos adotados pelos evangélicos, inclusive os que se dizem espíritas em nosso país.

Dos atributos divinos, todos eles são incompatíveis com a figura bíblica do Deus que conversa com Moisés e que fica irado; enfim, como diz Kardec, contrariando seus principais fundamentos e características Ele é de infinito poder e bondade; assim, não pode ser o “criador” do mal, contrariando, mais uma vez, a tese evangélica de que teria Ele criado tudo.

Talvez, por outro lado, tenha usado tal conceito à falta de melhores sentidos figurativos, pela metodologia do ensino, tentando mostrar que não procede a idéia de “castigo divino” muito menos de ter sido d’Ele a criação do mal e dos fictícios personagens bíblicos de Lúcifer e Satanás. Aliás, não existe “criação”: isto é mera artimanha para que os textos bíblicos não sejam contrariados, configurando suas inverdades perante a Ciência.

Em princípio, para ser infinitamente justo não pode perdoar ninguém (o que não significa condenação); ao contrário, deverá fazê-lo cumprir a “lei de causa e efeito” que Jesus traduziu em linguagem simples dizendo “assim como fizeres, assim acharás” mas que os próprios evangélicos geralmente ignoram porque, para eles, Jesus é o grande protetor dos seus adoradores e, como tal, perdoaria incondicionalmente seus atos, bastando, para, tal, adorá-lo em essência e verdade. Chegam a dizer que ele “sofreu” na cruz para resgatar nossos débitos: que absurdo! Evidentemente, só os fiéis a ele, Jesus, estariam salvos provando uma terrível parcialidade porque os bons que não o tenham seguido seriam condenados, apesar de justos...

E Deus, como causa suprema, jamais contrariaria esta sábia lei de justiça, nem para atender a seus fanáticos adoradores! Afinal, esta lei é que mantém o Cosmo em equilíbrio.

Contudo, Kardec resume sua idéia relativa ao Supremo Agente do Universo dizendo: – “quando invocamos Deus, quem vem em nosso socorro é sempre um Espírito amigo”. Esta forma elimina qualquer possibilidade para que o homem, mesmo sendo Moisés, venha a conversar com Ele nem que seja em lugares sagrados, porque a sagração é pura forma humana de adoração.

Um outro aspecto curioso que se pode ver é aquele em que Kardec apresenta esta suprema causa como geradora permanente de seres e coisas, o que é perfeitamente compatível com o progresso sideral onde, a cada momento surge um novo corpo ou forma primitiva e uma nova essência existencial para seu desenvolvimento.

Vale também o inverso, ou seja, a cada momento, algo de novo surge e algo de antigo desaparece; os mais recentes estudos cósmicos nos falam das estrelas canibais, encarregadas de fazerem desaparecer do espaço sideral muita coisa que deva ser eliminada.

Kardec, portanto, analisou Deus à luz da razão, tentando tirar da idéia a concepção de que Ele seria um Ente espiritual igual a nós e com predicados puramente humanos, elevados ao extremo. Esse Deus antropomórfico não existe; é substituído, quando apelamos para Ele, por um Espírito amigo que venha em nosso socorro porque, senão, seria de uma terrível injustiça analisá-Lo em casos como aquele em que uma caravana de romeiros devotos de Nossa Senhora da Aparecida fretou um ônibus para ir à cidade da sua padroeira nos dias de comemoração e o veículo sofrera terrível desastre na viagem. Vários acabaram falecendo e muitos saíram feridos. Uma senhora que se ficara incólume declarou para a repórter que fora Deus que a salvara, só que a entrevistadora não teve a presença de espírito para indagar por que Deus, já que pôde salvá-la, não fez o mesmo com os demais devotos? Parcialidade baseada em quê?

Ou então o caso de dois times que disputam uma partida: o vitorioso declara que fora Deus que o ajudara a vencer; e por que Deus prejudicou a outra equipe fazendo-a perder? Por que tal outra parcialidade? No caso, o mérito passa a ter segundo plano.

Sem dúvida, o homem quer ver neste seu Ser Supremo um indivíduo equivalente a ele em seus íntimos conceitos, ajudando parcialmente a uns, talvez mais devotos, e prejudicando a outros por pura antipatia. Este é o Deus religioso que Kardec tentou desmitificar.

Por isso, muitos, ao traduzirem os textos de Kardec foram obrigados adulterá-los, a fim de não negarem tal crença, já que, no original francês da terceira edição mencionada, o codificador do verdadeiro Espiritismo tenta sutilmente fazer com que se veja que tais conceitos são inteiramente errôneos porque o Deus antropomórfico, além de não ser “infinito” e cheio de sentimentos (ou defeitos) humanos, jamais se tornaria compatível com o cosmo universal e, como tal, incapaz de tê-lo criado. Por sinal, foi exatamente esta posição que Kardec deve ter tomado, de forma sutil, tentando mostrar a seus estudiosos que o Universo jamais poderia ser criado da forma que apregoam, embora, só século e meio depois dele a Ciência nos dê subsídio para provar que, apesar da sutileza, Kardec usara a prudência para admitir a existência de uma “causa suprema” sem tirar a fé do crente que necessita avidamente de “crer” num Ente imaginário que seja tão humano quanto ele, para que tenha fé e confiança no seu Poder, mesmo com a justiça arranhada pela parcialidade da sua crença.

Note-se ainda que Kardec, vivendo numa sociedade do século XIX altamente cristã e numa civilização onde negar certos dogmas religiosos seria verdadeiro escândalo, parece que tentou, de alguma forma, intermediar entre a lógica de seus argumentos e o absurdo das imposições religiosas, sem provocar escândalos nem ferir susceptibilidades. Foi altamente político, neste sentido.

Mas, definindo sua doutrina como ciência de conclusões filosóficas no preâmbulo da sua principal obra “O Que é o Espiritismo”, afirmou em diversas outras ocasiões que ela acompanharia a evolução dos conhecimentos e sempre que alguma afirmativa correlata ficasse provada, ela passaria a integrar o Espiritismo.

Pois está na hora de se confirmar uma causa (Deus?) infinita como motivo de existência do Universo cíclico e sempre renovado por novas formações. Esta causa, porém, jamais poderá ser um Criador que teria dado início à nossa formação cósmica, tornando-a finita.

O grande mal da Religião é querer impor seus erros atribuídos ao Ente Supremo, a fim de não admitir que seu Deus não seja perfeito.

(1) Carlos Imbassahy (Biografia (por Carmem Imbassahy))

* * *

Artigo recebido do articulista, via e-mail, em 01 de maio de 2009

Friday, May 01, 2009 1:37 PM.

Publicado neste Portal A ERA DO ESPÍRITO com a autorização da autora.



endereço: http://aeradoespirito2.sites.uol.com.br/Artigos/DEUS_E_A_RAZAO_CBI.html

imagem: paulatavares501960.spaces.live.com


quarta-feira, 26 de maio de 2010

PORQUE NÃO SOU ESPÍRITA KARDECISTA


Wladisney Lopes da Costa

wladisney@terra.com.br

"Porém, nunca o repetirei demasiado, não aceiteis coisa alguma às cegas." Erasto, LM Cap. V Item 98

É muito comum encontrarmos afirmações do tipo: Espírita Kardecista, Kardecismo. Isto cada vez mais, vai se tornando natural no meio Espírita em palestras, jornais e revistas. Porem o que me chamou a atenção foi o artigo da jornalista Renata Saraiva no Jornal Valor de 15 de dezembro de 2000, no seu artigo “Loucura e espiritismo no Brasil” a chamada é a seguinte: “Historiadora estuda como a psiquiatria tratou o Kardecismo no início do século”. O artigo trata da tese de doutorado da historiadora da Universidade Estadual de Campinas-UNICAMP Angélica Silva de Almeida “A Loucura Espírita no Brasil”.Percebam que o termo Kardecismo foi utilizado como sinônimo de Espiritismo, demonstrando que a confusão iniciada no meio espírita começa a atingir também a mídia. Isto é tudo que alguns inimigos da Doutrina Espírita querem, pois ela deixaria de ser a revelação dada por uma plêiade de espíritos liderados pelo Espírito da Verdade para ficar resumida em uma única pessoa. Antigamente falava-se em espiritismo de mesa branca, espírita de mesa branca e a mesa branca foi substituída por Kardecismo ou Kardecista, alguns centros chegam a incluir em sua denominação Centro Espírita Kardecista.

Entre os espíritas ainda predomina o aprendizado verbal ouve-se alguém dizer acha-se bonito e vai se repetindo, sem parar para refletir se isto condiz com o que aprendemos, apenas como exemplo já perceberam como o termo karma foi incorporado ao linguajar de alguns “espíritas”.

O que mais ouvimos é que a leitura do Livro dos Espíritos é muito difícil, por isto esta verdadeira enxurrada de romances, muitos deles com erros graves em relação à Doutrina e são vendidos dentro da própria casa espírita, basta se dizer que o livro é psicografado para se tornar uma obra espírita, mas esta é uma história que fica para uma outra vez.

Para explicar porque não sou espírita Kardecista, chamo em minha defesa o Sr. Allan Kardec, que sem duvida era o bom senso encarnado e que já imaginando as distorções que poderiam ocorrer fez questão de deixar bem claro logo no primeiro parágrafo da introdução do Livro dos Espíritos o seguinte: “Para se designarem coisas novas são precisos termos novos. Assim exige a clareza da linguagem para evitar confusão inerente à variedade de sentidos das mesmas palavras.” e mais a frente estabelece “Os adeptos do Espiritismo serão, Espíritas ou se quiserem Espiritistas. (grifo nosso) .

Recorro agora a equipe de espíritos responsáveis pelo Livro dos Espíritos, vamos aos prolegômenos deste livro, que nos dizem: “Este livro é o repositório de seus ensinos, foi escrito por ordem e mediante ditado de Espíritos superiores para estabelecer os fundamentos de uma filosofia racional. Nada contém que não seja a expressão do pensamento deles e que não tenha sido por eles examinado. Só a ordem e a distribuição metódica das matérias, assim como as nota e a forma de algumas partes da redação constituem obra d’aquele que recebeu a missão de os publicar”.

Portanto a simples leitura da Introdução e dos Prolegômenos, do Livro dos Espíritos já bastaria para que não criássemos termos novos para definir o que já está definido e muito bem definido.Seria interessante ainda aos que se dizem espiritas Kardecista lerem o Capitulo I de A Gênese que trata do Caráter da Revelação Espirita, em especial o item 45 que aqui reproduzimos A primeira revelação teve a sua personificação em Moisés, a segunda no Cristo, a terceira não a tem em indivíduo algum (grifo nosso). As duas primeiras foram individuais, a terceira coletiva; aí está um caráter essencial de grande importância. Ela é coletiva no sentido de não ser feita ou dada como privilégio de pessoa alguma; ninguém, por conseqüência, pode inculcar-se como seu profeta exclusivo; foi espalhada simultaneamente, por sobre a Terra, a milhões de pessoas, de todas as idades e condições, desde a mais baixa até a mais alta da escala, conforme, esta predição registrada pelo autor dos Atos dos Apóstolos:’Nos últimos tempos, disse o Senhor, derramarei o meu espírito sobre toda a carne; os vossos filhos e filhas profetizarão, os mancebos terão visões, e os velhos, sonhos”.(Atos, cap. II vv. 17,18.) Ela não proveio de nenhum culto especial, a fim de servir um dia, a todos, de ponto de ligação.Com base neste item Kardec faz uma nota explicando o seu papel “neste grande movimento de idéias”. Neste mesmo livro no Cap. XVII, Predições do Evangelho item 40, podemos ler: Não é uma doutrina individual, uma concepção humana; ninguém pode dizer-se seu criador. É o produto do ensino coletivo dos espíritos, ao qual preside o Espírito de Verdade “. E no rodapé da pagina joga uma pá de cal sobre este assunto, escrevendo o seguinte: ”Todas as doutrinas filosóficas e religiosas trazem o nome da individualidade fundadora: o mosaismo, o cristianismo, o maometismo, o budismo, o cartesianismo, o furierismo, san-sinomismo, etc. A palavra Espiritismo ao contrário, não lembra nenhuma personalidade, ela encerra uma idéia geral, que indica, ao mesmo tempo, o caráter e a fonte múltipla da doutrina”.

Portanto baseado em tudo que aprendi até agora, sou Espírita e ponto final.



endereço: http://www.terraespiritual.locaweb.com.br/espiritismo/artigo116.html
imagem: internet


quinta-feira, 20 de maio de 2010

REENCARNAÇÃO NO CONTEXTO HISTÓRICO


Pois não há nada de escondido que não venha a ser revelado, e não existe nada de oculto que não venha a ser conhecido". (JESUS, Mt 10,26).

A cada dia que desenvolvemos nossos estudos sobre o tema reencarnação estamos vendo que, infelizmente, muitas coisas foram expurgadas das Sagradas Escrituras, a verdade pouco lhes importa, com o objetivo de justificar a manutenção de dogmas religiosos. Dogmas esses que ainda servem aos interesses das lideranças religiosas, que buscam de todas as formas fazer com que seus fiéis permaneçam na ignorância e assim sigam acreditando nessa teologia "Adão e Eva".

Assim, é que já em Êxodo 20, 5, mudaram a preposição, que fatalmente nos levaria à conclusão da existência da reencarnação, quando trocam o "na" por "até", vejamos:

"... porque eu, Iahweh teu Deus, sou um Deus ciumento, que puno a iniqüidade dos pais sobre os filhos até a terceira e quarta geração dos que me odeiam".

Só que, com essa mudança, o texto entra em conflito com outra passagem bíblica:

"Os pais não serão mortos em lugar dos filhos, nem os filhos em lugar dos pais. Cada um será executado por seu próprio crime". (Dt 24, 16) [ ].

Entretanto, se colocarmos a preposição "na" em lugar da usada no texto, ficaremos perfeitamente coerentes com essa passagem anterior e a justiça divina não puniria um inocente, mas o próprio espírito culpado que nasceria como neto ou bisneto dele mesmo, ou seja, o próprio criminoso reencarnado como um de seus descendentes.

Sempre lemos, de outros autores, que a idéia da reencarnação existia no cristianismo primitivo e existe no judaísmo, como por exemplo, Dr. Severino Celestino da Silva, em Analisando as Traduções Bíblicas, H. Spencer Lewis, F.R.C, Ph.D., no livro A Vida Mística de Jesus e o teólogo alemão Holger Kersten, autor de Jesus Viveu na Índia, do qual transcrevemos:

"Até agora, quase todos os historiadores da Igreja acreditaram que a doutrina da reencarnação foi declarada herética durante o Concílio de Constantinopla em 553. No entanto, a condenação da doutrina se deve a uma ferrenha oposição pessoal do imperador Justiniano, que nunca esteve ligado aos protocolos do Concílio. Segundo Procópio, a ambiciosa esposa de Justiniano, que, na realidade, era quem manejava o poder, era filha de um guardador de ursos do anfiteatro de Bizâncio. Ela iniciou sua rápida ascensão ao poder como cortesã. Para se libertar de um passado que a envergonhava, ordenou, mais tarde, a morte de quinhentas antigas ‘colegas’ e, para não sofrer as conseqüências dessa ordem cruel em uma outra vida como preconizava a lei do Carma, empenhou-se em abolir toda a magnífica doutrina da reencarnação. Estava confiante no sucesso dessa anulação, decretada por ‘ordem divina’".

"Em 543 d.C. o imperador Justiniano, sem levar em conta o ponto de vista papal, declarou guerra frontal aos ensinamentos de Orígenes, condenando-os através de um sínodo especial. Em suas Obras De Principiis e Contra Celsum, Orígenes (185-235 d.C), o grande Padre da Igreja, tinha reconhecido, abertamente, a existência da alma antes do nascimento e sua dependência de ações passadas. Ele pensava que certas passagens do Novo Testamento poderiam ser explicadas somente à luz da reencarnação".

"Do Concílio convocado pelo imperador Justiniano só participaram bispos do Oriente (ortodoxos). Nenhum de Roma. E o próprio Papa, que estava em Constantinopla naquela ocasião, deixou isso bem claro".

"O Concílio de Constantinopla, o quinto dos Concílios, não passou de um encontro, mais ou menos em caráter privado, organizado por Justiniano, que, mancomunado com alguns vassalos, excomungou e maldisse a doutrina da pré-existência da alma, apesar dos protestos do Papa Virgílio, com a publicação de seus Anathemata".

"A conclusão oficial a que o Concílio chegou após uma discussão de quatro semanas teve que ser submetida ao Papa para ratificação. Na verdade, os documentos que lhe foram apresentados (os assim-chamados ‘Três Capítulos’) versavam apenas sobre a disputa a respeito dos três eruditos que Justiniano, há quatro anos, havia por um edito declarado heréticos. Nada continham sobre Orígenes. Os Papas seguintes, Pelágio I (556-561), Pelágio II (579-590) e Gregório (590-604), quando se referiram ao quinto Concílio, nunca tocaram no nome de Orígenes".

"A Igreja aceitou o edito de Justiniano – ‘Todo aquele que ensinar esta fantástica pré-existência da alma e sua monstruosa renovação será condenado’ – como parte das conclusões do Concílio. Portanto, a proibição da doutrina da reencarnação não passa de um erro histórico, sem qualquer validade eclesiástica". (pág. 240-241).

E especificamente quanto ao judaismo podemos comprovar pelo historiador judeu Flavius Josephus, citado por Dr. Hernani de Guimarães Andrade, no livro Você e a Reencarnação, à página 28. Dr. Hernani em referência a WHISTON (The Works of Flavius Josephus, trad. Willian Whiston, M.A., London: War, Loc & Co. Limited.), diz-nos:

Flavius Josephus (37 a 95 a.D.), intelectual e historiador judeu, em sua famosa obra De Bello Judaico, faz a seguinte advertência aos soldados judeus que preferiam desertar, suicidando-se:

"Não vos recordais de que todos os espíritos puros que se encontram em conformidade com a vontade divina vivem no mais humildes dos lugares celestiais, e que no decorrer do tempo eles serão novamente enviados de volta para habitar corpos inocentes? Mas que as almas daqueles que cometeram suicídio serão atiradas às regiões trevosas do mundo inferior?" (Josephus, 1910).

Entretanto, até nessa clássica obra desse autor da antiguidade modificaram o texto para, obviamente, fugir da idéia da reencarnação, conforme podemos comprovar pela tradução de Vicente Pedroso, publicada no livro História dos Hebreus, (CPAD, 7ª ed., 2003), que diz o seguinte (pág. 600):

Não sabeis que Ele difunde suas bênçãos sobre a posteridade daqueles, que depois de ter chamado para junto de si, entregam em suas mãos, a vida, que, segundo as leis da natureza, Ele lhes deu e que suas almas voam puras para o céu, para lá viverem felizes e voltar, no correr dos séculos, animar corpos que sejam puros como elas (*) e que ao invés, as almas dos ímpios, que por uma loucura criminosa dão a morte a si mesmos são precipitados nas trevas do inferno.

(*) Parece, segundo estas palavras, que Josefo acreditava na metempsicose.

Observar que apesar dos textos serem bem semelhantes, mudaram todo o sentido do original para fugir da idéia da reencarnação. Dúvida que envolveu até o próprio editor: "Parece, segundo estas palavras, que Josefo acreditava na metempsicose", querendo dissimular o pensamento sobre a reencarnação.

Mas se esqueceu de modificar o que disse Josephus, quando fala no que acreditavam os fariseus:

"Eles julgam que as almas são imortais, que são julgadas em um outro mundo e recompensadas ou castigadas segundo foram neste, viciosas ou virtuosas; que umas são eternamente retidas prisioneiras nessa outra vida e que outras voltam a esta". (op. cit., pág. 416).

Entretanto, o mesmo não aconteceu com a tradução do livro Atos dos Apóstolos 23, 8, onde se diz que os fariseus sustentam "a ressurreição", quando, na verdade, deveria ser "a reencarnação", conforme nos informa o historiador judeu.

Podemos ainda acrescentar as informações contidas no livro As Rodas da Alma, onde o Rabino Philip S. Berg desenvolvendo o tema dentro da ótica cabalista, diz a certa altura (pág. 29):

"Entre todos os que aceitam a doutrina da reencarnação, talvez os cabalistas sejam os únicos que acreditam que uma alma pode retornar num nível inferior daquele que deixou em uma vida anterior. Efetivamente, se o peso do tikun (correção) for suficientemente pesado, uma alma humana poderá se encontrar reencarnada no corpo de um animal, de uma planta ou até mesmo de uma pedra".

"A Cabala é o significado mais profundo e oculto da Torá, ou Bíblia", diz Berg, o que confirma que é um conhecimento do judaísmo místico, segundo suas próprias palavras.

Trazemos também a opinião de Sérgio F. Aleixo, escritor e estudioso da Bíblia, que em seu livro Reencarnação – Lei da Bíblia, Lei do Evangelho, Lei de Deus, diz o seguinte (pág. 21):

"Neste trabalho, queremos demonstrar que a cultura judaico-cristã tem precedentes reencarnacionistas incontestáveis, a despeito de as políticas igrejeiras, sustentadas pelos mais absurdos teologismos, se obstinarem ainda em negá-los".

É comum a certas pessoas advogarem que devemos, para interpretar a Bíblia, levar em conta o contexto histórico, mas quando o fato é reencarnação não seguem a sua própria recomendação. Os fatos históricos estão aí relatados, e não há como mudá-los. Resta então aos fanáticos a humildade de mudarem de posicionamento em relação ao assunto. Embora sinceramente achamos isso muito difícil, pois são completamente cegos, cuja única verdade que aceitam é a que lhes ensinaram, pouco importa se corresponde à realidade ou não. Todos os que pensam diferente deles são "heréticos" que precisam ser combatidos.

Aos que ainda nos dias de hoje perseguem os Espíritas por causa desse princípio doutrinário do Espiritismo, recomendamos que leiam mais, mas saiam da literatura de autores "recomendados" e busquem a verdade em outras obras, principalmente de outros autores, estudiosos e pesquisadores da reencarnação, que não os de sua corrente religiosa. Somente os que temem a verdade é que proíbem a leitura de obras fora do "nihil obstat" de sua liderança religiosa.

Paulo da Silva Neto Sobrinho

Jan/2004. (revisado)


Referências Bibliográficas:

ALEIXO, S.F. Reencarnação – Lei da Bíblia, Lei do Evangelho, Lei de Deus, Niterói, Lachâtre, 2003.

ANDRADE, H.G. Você e a Reencarnação, Bauru, CEAC, 2002.

BERG, P. S. As Rodas da Alma, São Paulo, Centro de Estudos da Cabala, 1998.

CHAVES, J. R. A Reencarnação Segundo a Bíblia e a Ciência, São Paulo, 2002.

DIVERSOS. Bíblia de Jerusalém, São Paulo, Paulus, 2002.

KERSTEN, H. Jesus Viveu na Índia. São Paulo, Best Seller, 1988.

LEWIS, H.S. A Vida Mística de Jesus, Curitiba, AMORC, 2001.

SILVA, S. C. Analisando as Traduções Bíblicas. João Pessoa; Idéia, 2001.



endereço: http://www.apologiaespirita.org/

imagem: inrireidosreis.blogspot.com


segunda-feira, 17 de maio de 2010

TEORIA DA PRESCIÊNCIA



1. — Como é possível o conhecimento do futuro?
Compreende-se a possibilidade da previsão dos acontecimentos que devam resultar do estado presente; porém, não a dos que nenhuma relação guardem com esse estado, nem, ainda menos, a dos que são comumente atribuídos ao acaso. Não existem as coisas futuras, dizem; elas ainda se encontram no nada; como, pois, se há de saber que se darão?
São, no entanto, em grande número os casos de predições realizadas, donde forçosa se torna a conclusão de que ocorre aí um fenômeno para cuja explicação falta a chave, porquanto
não há efeito sem causa. É essa causa que vamos tentar descobrir e é ainda o Espiritismo, já de si mesmo chave de tantos mistérios, que no-la fornecerá, mostrando-nos, ao demais, que o próprio fato das predições não se produz com exclusão das leis naturais.
Tomemos, para comparação, um exemplo nas coisas usuais. Ele nos ajudará a compreender o princípio que teremos de desenvolver.

2. — Suponhamos um homem colocado no cume de uma alta montanha, a observar a vasta extensão da planície em derredor. Nessa situação, o espaço de uma légua pouca coisa será para ele, que poderá facilmente apanhar, de um golpe de vista, todos os acidentes do terreno, de um extremo a outro da estrada que lhe esteja diante dos olhos. O viajor, que pela
primeira vez percorra essa estrada, sabe que, caminhando, chegará ao fim dela. Constitui isso uma simples previsão da conseqüência que terá a sua marcha. Entretanto, os acidentes do terreno, as subidas e descidas, os cursos dágua que terá de transpor, os bosques que haja de atravessar, os precipícios em que poderá cair, as casas hospitaleiras onde lhe será possível repousar, os ladrões que o espreitem para roubá-lo, tudo isso independe da sua pessoa; é para ele o desconhecido, o futuro, porque a sua vista não vai além da pequena área que o cerca.
Quanto à duração, mede-a pelo tempo que gasta em perlustrar o caminho. Tirai-lhe os pontos de referência e a duração desaparecerá. Para o homem que está em cima da montanha e que o acompanha com o olhar, tudo aquilo está presente.
Suponhamos que esse homem desce do seu ponto de observação e, indo ao encontro do viajante, lhe diz: «Em tal momento, encontrarás tal coisa, serás atacado e socorrido.»
Estará predizendo o futuro, mas, futuro para o viajante, não para ele, autor da previsão, pois que, para ele, esse futuro é presente.

3. — Se, agora, sairmos do âmbito das coisas puramente materiais e entrarmos, pelo pensamento, no domínio da vida espiritual, veremos o mesmo fenômeno produzir-se em maior escala. Os Espíritos desmaterializados são como o homem da montanha; o espaço e a duração não existem para eles. Mas, a extensão e a penetração da vista são proporcionadas à depuração deles e à elevação que alcançaram na hierarquia espiritual. Com relação aos Espíritos inferiores, aqueles são quais homens munidos de possantes telescópios, ao lado de outros que apenas dispõem dos olhos. Nos Espíritos inferiores, a visão é circunscrita, não só porque eles dificilmente podem afastar-se do globo a que se acham presos, como também porque a grosseria de seus perispíritos lhes vela as coisas distantes, do mesmo modo que um nevoeiro as oculta aos
olhos do corpo.
Bem se compreende, pois, que, de conformidade com o grau de sua perfeição, possa um Espírito abarcar um período de alguns anos, de alguns séculos, mesmo de muitos milhares de anos, porquanto, que é um século em face do infinito?
Diante dele, os acontecimentos não se desenrolam sucessivamente, como os incidentes da estrada diante do viajor: ele vê simultaneamente o começo e o fim do período; todos os eventos que, nesse período, constituem o futuro para o homem da Terra são o presente para ele, que poderia então vir dizer-nos com certeza: Tal coisa acontecerá em tal época, porque essa coisa ele a vê como o homem da montanha vê o que espera o viajante no curso da viagem. Se assim não procede, é porque poderia ser prejudicial ao homem o conhecimento do futuro, conhecimento que lhe pearia o livrearbítrio, paralisá-lo-ia no trabalho que lhe cumpre executar a
bem do seu progresso. O se lhe conservarem desconhecidos o bem e o mal com que topará constitui para o homem uma prova.
Se tal faculdade, mesmo restrita, se pode contar entre os atributos da criatura, em que grau de potencialidade não existirá no Criador, que abrange o infinito? Para o Criador, o tempo não existe: o princípio e o fim dos mundos lhe são o presente. Dentro desse panorama imenso, que é a duração da vida de um homem, de uma geração, de um povo?

4. — Entretanto, como o homem tem de concorrer para o progresso geral, como certos acontecimentos devem resultar da sua cooperação, pode convir que, em casos especiais, ele pressinta esses acontecimentos, a fim de lhes preparar o encaminhamento e de estar pronto a agir, em chegando a ocasião. Por isso é que Deus, às vezes, permite se levante uma ponta do véu; mas, sempre com fim útil, nunca para satisfação de vã curiosidade. Tal missão pode, pois, ser conferida, não a todos os Espíritos, porquanto muitos há que do futuro não conhecem mais do que os homens, porém a alguns Espíritos bastante adiantados para desempenhá-la. Ora, é de notar-se que as revelações dessa espécie são sempre feitas espontaneamente e jamais, ou, pelo menos, muito raramente, em resposta a uma pergunta direta.

5. — Pode também semelhante missão ser confiada a certos homens, desta maneira:
Aquele a quem é dado o encargo de revelar uma coisa oculta recebe, à sua revelia e por inspiração dos Espíritos que a conhecem, e revelação dela e a transmite maquinalmente, sem se aperceber do que faz. É sabido, ao demais, que, assim durante o sono, como em estado de vigília, nos êxtases da dupla vista, a alma se desprende e adquire, em grau mais ou menos alto, as faculdades do Espírito livre. Se for um Espírito adiantado, se, sobretudo, houver recebido, como os profetas, uma missão especial para esse efeito, gozará, nos momentos de emancipação da alma, da faculdade de abarcar, por si mesmo, um período mais ou menos extenso, e verá, como presente, os sucessos desse período. Pode então revelá-los no mesmo instante, ou conservar lembrança deles ao despertar. Se os sucessos hajam de permanecer secretos, ele os esquecerá, ou apenas guardará uma vaga intuição do que lhe foi revelado, bastante para o guiar instintivamente.

6. — É assim que em certas ocasiões essa faculdade se desenvolve providencialmente, na iminência de perigos, nas grandes calamidades, nas revoluções, e é assim também que a maioria das seitas perseguidas adquire numerosos videntes. É ainda por isso que se vêem os grandes capitães avançar resolutamente contra o inimigo, certos da vitória; que homens de gênio, como, por exemplo, Cristóvão Colombo, caminham para uma meta, anunciando previamente, por assim dizer, o instante em que a alcançarão. É que eles viram, essa meta, que, para seus Espíritos, deixou de ser o desconhecido.
Nada, pois, tem de sobrenatural o dom da predição, mais do que uma imensidade de outros fenômenos. Ele se funda nas propriedades da alma e na lei das relações do mundo visível com o mundo invisível, que o Espiritismo veio dar a conhecer.
A teoria da presciência talvez não resolva de modo absoluto todos os casos que se possam apresentar de revelação do futuro, mas não se pode deixar de convir em que lhe estabelece o princípio fundamental.

7. — Muitas vezes, as pessoas dotadas da faculdade de prever, seja no estado de êxtase, seja no de sonambulismo, vêem os acontecimentos como que desenhados num quadro, o que também se poderia explicar pela fotografia do pensamento. Atravessando o pensamento o espaço, como os sons atravessam o ar, um sucesso que esteja no dos Espíritos que trabalham para que ele se dê, ou no dos homens cujos atos devam provocá-lo, pode formar uma imagem para o vidente; mas, como a sua realização pode ser apressada ou retardada por um, concurso de circunstâncias, este último vê o fato, sem poder, todavia, determinar o momento em que se dará. Não raro acontece que aquele pensamento não passa de um projeto, de um desejo, que se não concretizem em realidade, donde os freqüentes erros de fato e de data nas previsões. (Cap. XlV, nos 13 e seguintes.)

8. — Para compreendermos as coisas espirituais, isto é, para fazermos delas idéia tão clara como a que fazemos de uma paisagem que tenhamos ante os olhos, falta-nos em verdade um sentido, exatamente como ao cego de nascença falta um que lhe faculte compreender os efeitos da luz, das
cores e da vista, sem o contacto. Daí se segue que somente por esforço da imaginação e por meio de comparações com coisas materiais que nos sejam familiares chegamos a consegui-lo.
As coisas materiais, porém, não nos podem dar das coisas espirituais senão idéias muito imperfeitas, razão por que não se devem tomar ao pé da letra essas comparações e crer, por exemplo, que a extensão das faculdades perceptivas dos Espíritos depende da efetiva elevação deles, nem que eles precisem estar em cima de uma montanha ou acima das nuvens para abrangerem o tempo e o espaço.
Tal faculdade lhes é inerente ao estado de espiritualização, ou, se o preferirem, de desmaterialização.
Quer isto dizer que a espiritualização produz um efeito que se pode comparar, se bem muito imperfeitamente, ao da visão de conjunto que tem o homem colocado sobre a montanha. Esta comparação objetivava simplesmente mostrar que acontecimentos pertencentes ainda, para uns, ao futuro, estão, para outros, ao presente e podem assim ser preditos, o que não implica que o efeito se produza de igual maneira.
Para, portanto, gozar dessa percepção, não precisa o Espírito transportar-se a um ponto qualquer do espaço. Pode possuí-la em toda a sua plenitude aquele que na Terra se acha ao nosso lado, tanto quanto se achasse a mil léguas de distância, ao passo que nós nada vemos além do nosso horizonte visual. Não se operando a visão, nos Espíritos, do mesmo modo, nem com os mesmos elementos que no homem, muito diverso é o horizonte visual dos primeiros. Ora, é precisamente esse o sentido que nos falece para o concebermos. O Espírito, ao lado do encarnado, é como o vidente ao lado do cego.

9. — Devemos, além disso, ponderar que essa percepção não se limita ao que diz respeito à extensão; que ela abrange a penetração de todas as coisas. É, repetimo-lo, uma faculdade inerente e proporcionada ao estado de desmaterialização. A encarnação amortece-a, sem, contudo, a anular completamente, porque a alma não fica encerrada no corpo como numa caixa. O encarnado a possui, embora sempre em grau menor do que quando se acha completamente desprendido; é o que confere a certos homens um poder de penetração que a outros falece inteiramente; maior agudeza de visão moral; compreensão mais fácil das coisas extramateriais.
O Espírito encarnado não somente percebe, como também se lembra do que viu no estado de Espírito livre e essa lembrança é como um quadro que se lhe desenha na mente. Na encarnação, ele vê, mas vagamente, como através de um véu; no estado de liberdade, vê e concebe claramente. O princípio da visão não lhe é exterior, está nele; essa a razão por que não precisa da luz exterior. Por efeito do desenvolvimento moral, alarga-se o círculo das idéias e da concepção; por efeito da desmaterialização gradual do perispírito, este se purifica dos elementos grosseiros que lhe alteravam a delicadeza das percepções, o que torna fácil compreender-se que a ampliação de todas as faculdades acompanha o progresso do Espírito.

10. — O grau da extensão das faculdades do Espírito é que, na encarnação, o torna mais ou menos apto a conceber as coisas espirituais. Essa aptidão, todavia, não é corolário forçoso do desenvolvimento da inteligência; a ciência vulgar não a dá, tanto assim que há homens de grande saber tão cegos para as coisas espirituais, quanto outros o são para as coisas materiais; são-lhes refratários, porque não as compreendem, o que significa que ainda não progrediram em tal sentido, ao passo que outros, de instrução e inteligência vulgares, as aprendem com a maior facilidade, o que prova que já tinham de tais coisas uma intuição prévia. É, para estes, uma lembrança retrospectiva do que viram e souberam, quer na erraticidade, quer em suas existências anteriores, como alguns têm a intuição das línguas e das ciências de que já foram
conhecedores.

11. — Quanto ao futuro do Espiritismo, os Espíritos, como se sabe, são unânimes em afirmar o seu triunfo próximo, a despeito dos obstáculos que lhe criem. Fácil lhes é essa previsão, primeiramente, porque a sua propagação é obra pessoal deles: concorrendo para o movimento, ou dirigindo-o, eles naturalmente sabem o que devem fazer; em segundo lugar, basta-lhes entrever um período de curta duração: vêem, nesse período, ao longo do caminho, os poderosos auxiliares que Deus lhe suscita e que não tardarão a manifestar-se.
Transportem-se os espíritas, embora sem serem Espíritos desencarnados, a trinta anos apenas para diante, ao seio da geração que surge; daí considerem o que se passa hoje com o Espiritismo; acompanhem-lhe a marcha progressiva e verão consumir-se em vãos esforços os que se crêem destinados a derrocá-lo. Verão que esses tais pouco a pouco desaparecem de cena e que, paralelamente, a árvore cresce e alonga cada dia mais as suas raízes.

12. — As mais das vezes, os acontecimentos vulgares da vida privada são conseqüência da maneira de proceder de cada um: este, de acordo com as suas capacidades, com a sua habilidade, com a sua perseverança, prudência e energia, terá êxito naquilo em que outro verá malogrados todos os seus esforços, por efeito da sua inaptidão, de sorte que se pode dizer que cada um é o artífice do seu próprio futuro, futuro que jamais se encontra sujeito a uma cega fatalidade, independente da sua personalidade. Conhecendo-se o caráter de um indivíduo, facilmente se lhe pode predizer a sorte que o espera no caminho por onde haja ele enveredado.

13. — Os acontecimentos que envolvem interesses gerais da Humanidade têm a regulá-los a Providência. Quando uma coisa está nos desígnios de Deus, ela se cumpre a despeito de tudo, ou por um meio, ou por outro. Os homens concorrem para que ela se execute; nenhum, porém, é indispensável, pois, do contrário, o próprio Deus estaria à mercê das suas criaturas.
Se faltar aquele a quem incumba a missão de a executar, outro será dela encarregado. Não há missão fatal; o homem tem sempre a liberdade de cumprir ou não a que lhe foi confiada e que ele voluntariamente aceitou. Se não o faz, perde os benefícios que daí lhe resultariam e assume a responsabilidade dos atrasos que possam resultar da sua negligência ou da sua má-vontade. Se se tornar um obstáculo a que ela se cumpra, está em Deus afastá-lo com um sopro.

14. — Pode, portanto, ser certo o resultado final de um acontecimento, por se achar este nos desígnios de Deus; como, porém, quase sempre, os pormenores e o modo de execução se encontram subordinados às circunstâncias e ao livre-arbítrio dos homens, podem ser eventuais as sendas e os meios. Está nas possibilidades dos Espíritos prevenir-nos do conjunto, se convier que sejamos avisados; mas, para determinarem lugar e data, fora mister conhecessem previamente a decisão que tomará este ou aquele indivíduo. Ora, se essa decisão ainda não lhe estiver na mente, poderá, tal venha ela a ser, apressar ou demorar a realização do fato, modificar os meios secundários de ação, embora o mesmo resultado chegue sempre a produzir-se. É assim, por exemplo, que, pelo conjunto das circunstâncias, podem os Espíritos prever que uma guerra se acha mais ou menos próxima, que é inevitável, sem, contudo, poderem predizer o dia em que começará, nem os incidentes pormenorizados que possam ser modificados pela vontade dos homens.

15. — Para determinação da época dos acontecimentos futuros, será preciso, ao demais, se leve em conta uma circunstância inerente à natureza mesma dos Espíritos.
O tempo, como o espaço, não pode ser avaliado senão com o auxílio de pontos de referências que o dividam em períodos que se contem. Na Terra, a divisão natural do tempo em dias e anos tem a marcá-la o levantar e o pôr do Sol, assim como a duração do movimento de translação do planeta terreno. As unidades de medida do tempo necessariamente variam conforme os mundos, pois que são diferentes os períodos astronômicos. Assim, por exemplo, em Júpiter, os dias eqüivalem a dez das horas terrestres e os anos a mais de doze anos nossos.
Há, pois, para cada mundo, um modo diferente de computar-se a duração, de acordo com a natureza das revoluções astrais que nele se efetuam. Já haverá aí uma dificuldade para que Espíritos que não conheçam o nosso mundo determinem datas com relação a nós. Além disso, fora dos mundos, não existem tais meios de apreciação. Para um Espírito, no espaço, não há levantar nem pôr de Sol a marcar os dias, nem revolução periódica a marcar os anos; só há, para ele, a duração e o espaço infinitos. (Cap. VI, nos 1 e seguintes.) Aquele, portanto, que jamais houvesse vindo à Terra nenhum conhecimento possuiria dos nossos cálculos que, aliás, lhe seriam completamente inúteis. Mais ainda: aquele que jamais houvesse encarnado em nenhum mundo, nenhuma noção teria das frações da duração. Quando um Espírito estranho à Terra vem aqui manifestar-se, não pode assinar datas aos acontecimentos, senão identificando-se com os nossos usos; ora, isso sem dúvida lhe é possível, porém, as mais das vezes, ele nenhuma utilidade descobre nessa identificação.

16. — Os Espíritos, que formam a população invisível do nosso globo, onde eles já viveram e onde continuam a imiscuir-se na nossa vida, estão naturalmente identificados com os nossos hábitos, cuja lembrança conservam na erraticidade. Poderão, por conseguinte, com maior facilidade, determinar datas aos acontecimentos futuros, desde que os conheçam; mas, além de que isso nem sempre lhes é permitido, eles se vêem impedidos pela razão de que, sempre que as circunstâncias de minúcias estão subordinadas ao livre-arbítrio e à decisão eventual do homem, nenhuma data precisa existe realmente, senão depois que o acontecimento se tenha dado.
Eis aí por que as predições circunstanciadas não podem apresentar cunho de certeza e somente como prováveis devem ser acolhidas, mesmo que não tragam eiva que as torne legitimamente suspeitas. Por isso mesmo, os Espíritos verdadeiramente ponderados nada nunca predizem para
épocas determinadas, limitando-se a prevenir-nos do seguimento das coisas que convenha conheçamos. Insistir por obter informes precisos é expor-se às mistificações dos Espíritos levianos que predizem tudo o que se queira, sem se preocuparem com a verdade, divertindo-se com os terrores e as decepções que causem.

17. — A forma geralmente empregada até agora nas predições faz delas verdadeiros enigmas, as mais das vezes indecifráveis. Essa forma misteriosa e cabalística, de que Nostradamus nos oferece o tipo mais completo, lhes dá certo prestígio perante o vulgo, que tanto mais valor lhes atribui, quanto mais incompreensíveis se mostrem. Pela sua ambigüidade, elas se prestam a interpretações muito diferentes, de tal sorte que, conforme o sentido que se atribua a certas palavras alegóricas ou convencionais, conforme a maneira por que se efetue o cálculo, singularmente complicado, das datas e, com um pouco de boa-vontade, nelas se encontra quase tudo o que se queira.
Seja como for, não se pode deixar de convir em que algumas apresentam caráter sério e confundem pela sua veracidade. É provável que a forma velada tenha tido, em certo tempo, sua razão de ser e mesmo sua necessidade.
Hoje, as circunstâncias são outras; o positivismo do século dar-se-ia mal com a linguagem sibilina. Daí vem que presentemente as predições já não se revestem dessas formas singulares; nada têm de místicas as que os Espíritos fazem; eles usam a linguagem de toda gente, como o teriam feito quando vivos na Terra, porque não deixaram de pertencer à Humanidade. Avisam-nos das coisas futuras, pessoais ou gerais, quando necessário, na medida da perspicácia de que são dotados, como o fariam conselheiros e amigos. Suas previsões, pois, são antes advertências, do que predições propriamente ditas, as quais implicariam numa fatalidade absoluta. Além disso, quase sempre motivam a opinião que manifestam, por não quererem que o homem anule a sua razão sob uma fé cega e desejarem que este último lhe aprecie a exatidão.

18. — A Humanidade contemporânea também conta seus profetas. Mais de um escritor, poeta, literato, historiador ou filósofo hão traçado, em seus escritos, a marcha futura de acontecimentos a cuja realização agora assistimos.
Essa aptidão, sem dúvida, decorre, muitas vezes, da retidão do juízo, no deduzir as conseqüências lógicas do presente; mas, doutras vezes, também resulta de uma especial clarividência inconsciente, ou de uma inspiração vinda do exterior. O que tais homens fizeram quando vivos, podem, com razão mais forte e maior exatidão, fazer no estado de Espíritos livres, quando não têm a visão espiritual obscurecida pela matéria.

Allan Kardec - A Gênese - cap. XVI

imagem: blog.ministeriogracasobregraca.com


sábado, 15 de maio de 2010

DÉJÀ VU É UM FENÔMENO INSTIGANTE


O fenômeno se traduz por uma estranha impressão de já ter vivenciado a cena presente e mesmo saber o que se vai passar em seguida, ainda que a situação que esteja a ser vivida seja inédita. Conhecido como déjà vu, ou paramnesia (como também é conhecido), tem sido, ao longo dos anos, objeto das mais díspares tentativas de interpretação. Para Sigmund Freud, as cenas familiares seriam visualizadas nos sonhos e depois esquecidas e que, segundo ele, eram resultado de desejos reprimidos ou de memórias relacionadas com experiências traumáticas. Fabrice Bartolomei, Neurologista francês, a paramnesia é resultado de uma fugaz disfunção da zona do córtex entorrinal, situado por baixo do hipocampo e que se sabia já implicada em situações de "déjà vu", comuns em doentes padecendo de epilepsia temporal.

Experiências, conduzidas por investigadores do Leeds Memory Group, permitiram recriar, em laboratório e através da hipnose, as sensações de "déjà vu". Outros dados explicam que situações de stress ou fadiga possam favorecer, nesse contexto disfuncional, o aparecimento do fenômeno, mas a causa precisa deste "curto-circuito" cerebral permanece, ainda, uma incógnita.

Muitos de nós já tivemos a sensação de ter vivido essa situação que acabamos de relatar. Como já ter estado em um determinado lugar ou já ter vivido certa situação presente, quando, na realidade, isto não era de conhecimento anterior? Em alguns casos, ocorre a habilidade de, até, predizer os eventos que acontecerão em seguida, o que é denominado premonição. Seria um bug cerebral, premonição ou mera coincidência? A psiquiatria e a Doutrina Espírita explicam esta questão de formas diferentes.

Sabe-se que nossa memória, às vezes, pode falhar e nem sempre conseguimos distinguir o que é novo do que já era conhecido. "Eu já li este livro?" - "Já assisti a este filme?" - "Já estive neste lugar antes?" - "Eu conheço esse sujeito?" Estas são perguntas corriqueiras de nossa vida. No entanto, essas dúvidas não são acompanhadas daquele sentimento de estranheza que é indispensável ao verdadeiro déjà vu. Para alguns estudiosos, quando a sensação de familiaridade com as situações, lugares ou pessoas desconhecidas é freqüente e intensa, pode, até, ser um dos sintomas da epilepsia, na área do cérebro responsável pela memória, mas, essa mesma sensação pode indicar outros sintomas. Déjà Vu é um fenômeno anímico muito comum , embora de complexa definição científica.

Pode ocorrer com certa freqüência em indivíduos com distúrbios neuropatológicos, como a esquizofrenia e a epilepsia. Mas há, também, outras predisposições maiores por fatores não patológicos, como fadiga, estresse, traumas emocionais, excesso de álcool e drogas. Há, ainda, as teorias da psicodinâmica, da reencarnação, holografia, distorção do senso de tempo e transferência entre hemisférios cerebrais. São tão complexas as análises, que especialistas reagem contra a limitação do "vu", que restringiria ao mundo do que pode ser "visto", e já utilizam formas paralelas que fariam referência mais específica aos vários tipos de situação: "déjà véanus" ("já vivido"), "déjà lu" ("já lido"), "déjà entendu" ("já ouvido"), "déjà visité" ("já visitado") - o que pode, um dia, acarretar um "déjà mangé" ("já comido") ou um "déjà bu" ("já bebido").

Os especialistas, ainda, não sabem, concretamente, como ocorre, exatamente, a sensação do déjà vu em pessoas não epilépticas. A que ocorre em pessoas com a doença, no entanto, existem algumas hipóteses, como a batizada, pelo psicólogo Alan Brown, de "duplo processamento". (1) Segundo o psicólogo Alan Brown, professor da Universidade Southern Methodist, nos Estados Unidos, e autor do livro "The Déjà Vu Experience" (a experiência do déjà vu), dois terços da população mundial relatam ter tido, ao menos, um déjà vu na vida.

Para os conceitos espíritas tudo o que vemos e nos emociona, agradável ou desagradavelmente, nesta e nas encarnações pretéritas, fica, indelevelmente, gravado em alguma parte da região talâmica do cérebro perispiritual, e, em algumas ocasiões, a paramnesia emerge na consciência desperta. Pode, também, ser uma manifestação mediúnica se o médium entra, em dado momento, em um transe ligeiro, sutil, e capta a projeção de uma forma-pensamento emitida por um espírito desencarnado; essa é outra possibilidade.

A tese da reencarnação é difundida há milhares de anos. No Egito, um papiro antigo diz: "o homem retorna à vida varias vezes, mas não se recorda de suas pretéritas existências, exceto algumas vezes em sonho. No fim, todas essas vidas ser-lhe-ão reveladas." (2)

Em que pese serem as experiências déjà vu, segundo o academicismo, nada mais do que incidentes precógnitos esquecidos, urge considerar, porém, que existem situações dessa natureza que não podem ser explicadas dessa maneira. Entre elas, está em alguém ir a uma cidade ou a uma casa, pela primeira vez, e tudo lhe parecer muito íntimo, ao ponto de prever, com exatidão, detalhes sobre a casa ou a cidade; descreve, inclusive, a disposição dos cômodos, dos móveis, dos objetos e outros detalhes que estão muito além do âmbito da precognição normal. "Em geral, as experiências precógnitas são parciais e enfatizam certos pontos notáveis, talvez alguns detalhes, mas nunca todo o quadro. Quando o número de detalhes lembrado torna-se muito grande, temos que desconfiar, sempre, de que se trata de lembranças de uma encarnação passada". (3)

Apesar de não serem abundantes as publicações e depoimentos sobre o assunto, há teorias que associam o déjà vu a sonhos ou desdobramento do espírito, onde o espírito teria, realmente, vivido esses fatos, livre do corpo, e/ou surgiriam as lembranças de encarnações passadas, como disse acima, o que levaria à rememoração na encarnação presente. (4) Hans Holzer, registra uma história, em que ele descreve a experiência déjà vu: "durante a Segunda Guerra Mundial, um soldado se viu na Bélgica e, enquanto seus companheiros se perguntavam como entrar em determinada casa, em uma cidadezinha daquele país, ele lhes mostrou o caminho e subiu a escada à frente deles, explicando, enquanto subia, onde ficava cada cômodo. Quando, depois disso, perguntaram-lhe se havia estado ali antes, ele negou, dizendo que nunca havia deixado seu lar nos Estados Unidos, e estava dizendo a verdade. Não conseguia explicar como, de repente, se vira dotado de um conhecimento que não possuía em condições normais". (5)

Cremos que a experiência déjà vu é muito profunda e o sentimento é de estranheza. Devemos distinguir um sintoma do outro, pois, cada caso é um caso e nada acontece por acaso. Por ser um fenômeno profundamente anímico, é prudente separarmos as teorias da reencarnação, sonhos ou desdobramentos, das teorias de desejos inconscientes, fantasias do passado, mecanismo de autodefesa, ilusão epiléptica, entre outras, para melhor discernimento do que, realmente, seja uma paramnesia e o que seja, apenas, uma fantasia de nosso imaginário fecundo.



FONTES:
(1) Disponível em http://www1.folha.uol.com.br/folha/equilibrio/noticias/ult263u566377.shtml
(2) Papiro Anana" (1320 A.C.)
(3) Revista Cristã de Espiritismo, edição 35
(4) Idem
(5) Idem


endereço: http://jorgehessen.net/
imagem: cloudking.com/artists/joel-biroco/deja-vu.php



LinkWithin

Related Posts with Thumbnails