sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

O HOMEM MEDIÚNICO



Uma Visão do ser Humano para o Futuro

Prof Dr. Nubor Orlando Facure


Carl Von Linné (1707-1778), médico e naturalista sueco publicou em 1740 a primeira edição da sua obra genial “Sistema da Natureza” introduzindo o método de classificação binária (gênero e espécie) dos seres vivos. Sua atividade científica iniciou-se muito cedo com uma publicação aos 16 anos de um livro de botânica “As Núpcias das plantas” onde ele estudou o mecanismo de fecundação das flores.

Linné, no decorrer de sua vida publicou 180 obras de cunho científico dedicadas às Ciências Naturais. Ele trabalhou com auxiliares que enviou para “todos os cantos do mundo” a fim de lhe fornecerem material para a sua monumental classificação dos seres vivos e acreditava ter contado tantas espécies quantas foram criadas inicialmente por Deus.

Aristóteles, cerca de 400 anos antes de Jesus Cristo já havia feito uma classificação mais rudimentar na qual os seres vivos eram divididos em uma hierarquia de classes, sendo alguns superiores e outros de classe inferior estando o homem acima de todos. Tanto Aristóteles como Linné, acreditavam que as espécies eram imutáveis, que foram criadas com uma determinada aparência e assim permaneceriam sem qualquer mudança física. Só bem mais tarde, já no século XVIII, Charles Darwin estabeleceria os princípios da sua Teoria sobre a “evolução das espécies”.

Na classificação geral dos seres vivos o homem moderno é rotulado de Homo sapiens notando-se de antemão que a expressão “sapiens” dá um destaque privilegiado à sua inteligência.

Percorrendo os caminhos da Filosofia e da Ciência veremos que a preocupação sobre a natureza do ser humano é antiga e quase sempre esteve ligada à noção que o homem faz de si mesmo e, principalmente, do mundo onde está inserido. Para os sábios da antigüidade parecia, inicialmente, ser mais fácil estudar o ambiente externo do homem, incluindo aí todo o Universo visível na época, do que voltar-se para dentro de si mesmo e responder as suas indagações mais íntimas. Por muitos séculos o destino do homem e todas suas mazelas ou conquistas foram regidas pela disposição dos Astros no firmamento ou pelas expressões de grandeza das forças da Natureza. A Terra, o Fogo, o Ar e a Água foram tidos como as substâncias fundamentais de todo Universo e tanto a Vida como a Morte resultavam de suas transformações.

Na antiga Grécia, Sócrates, inicia o exercício da análise interior. Ensinava a primeira regra de identificação do ser Humano: “conheça-te a ti mesmo” e ditava aos seus discípulos que “o Homem é a sua Alma”.

Na Galiléia, a grandiosidade de Jesus sobrepujou o senso comum quando, referindo-se às nossas potencialidades, nos afirmou categórico, “sois deuses”. As interpretações humanas, distorceram e adaptaram a doutrina divina de Cristo aos interesses terrenos e percorreram os séculos da Idade Média alimentando o obscurantismo. Os dogmas religiosos foram se ajustando para se adequarem ao controle dos dominadores poderosos que não admitiam perder suas regalias. E, assim, a Religião que deveria consolar, esclarecer e libertar, escravizou e oprimiu. Construiu-se para Deus uma imagem antropomórfica. A Terra era tida como o centro do Universo e só aqui florescia a vida. O Homem era um ser espiritual destinado a temer a Deus e o seu corpo seria ressuscitado no final dos tempos. Estabeleceu-se uma hierarquia de falsos valores espirituais onde, determinadas pessoas, assumiam poderes especiais, por se considerarem possuidores do mandato de Deus para julgarem seus semelhantes, podendo perdoar ou condenar em nome deste Deus. A sociedade ficou dividida entre “cristãos” e “hereges” e esta diferença permitiu legalmente que campanhas de batalhas fossem organizadas para dizimar populações inteiras por não professarem o mesmo credo e, povos primitivos, com culturas seculares eram convencidos, à força, a mudarem seus costumes, afim de serem aceitos no céus que a Igreja postulava como único e verdadeiro. O Espírito prevalecia sobre o corpo, o que justificava as penitências ou os sacrifícios e, toda fisiologia do organismo, dependia da sua atuação. Esta doutrina assimilou os princípios de Galeno que se ajustavam muito bem às suas proposições.

Galeno foi um médico grego, que trabalhou em Roma para o Imperador Marco Aurélio entre os anos 170 e 200 da era cristã. Ele propunha que as funções do nosso organismo eram sustentadas pelos “pneumas” que faziam circular o sangue, movimentar os músculos e registrar os sentidos. O princípio fundamental da vida física era o “calor vital” que resultava da circulação do “pneuma” e sustentava a tenacidade dos organismos vivos. Esta doutrina prevaleceu por mais de 15 séculos sem que ninguém ousasse contestar Galeno.

As descobertas do Novo Mundo no século XVI ampliaram as terras conhecidas dando uma dimensão maior para as expressões da vida. Plantas novas, animais exóticos e povos estranhos exigiam uma revisão nos conceitos da condição humana na Terra. Nascem as primeiras intenções de se promover um conhecimento científico da Natureza através da observação direta ao invés de se admitir, sem contestação, as leis antigas impostas pelos eclesiásticos sem comprovações experimental.

Foram surgindo assim, os novos paradigmas para reinterpretarem os fenômenos naturais e a constituição do homem.

Giordano Bruno sugeriu a existência de uma substância única na constituição de todo Universo e afirmava que a Terra e o Sol não passariam de pequena parte de um Universo muito maior. No início de 1600 ainda prevalecia a intolerância religiosa e Giordano Bruno foi levado fogueira para se “evitar que este mal se propagasse”, sem que a Ciência avaliasse a importância da sua tese.

Galileu Galilei, introduziu os primeiros princípios da experimentação científica e propôs que todo fenômeno na natureza deveria ser quantificado através de medições, as quais seriam transformadas em formulações matemáticas para serem melhor compreendidas as leis que regulam a produção e as causas destes fenômenos. A fisiologia humana, obedecendo a este mesmo critério, começou a ser avaliada pela balança, o microscópio e o termômetro que passaram a fazer parte da instrumentação médica. Assim como um relógio de cordas, o corpo humano, viria a ser analisado em cada uma de suas partes para se identificar os mecanismos íntimos que faziam esta máquina funcionar.

Foi o anatomista André Vesálius quem em 1543 começou a desfazer os rígidos dogmas de Galeno. Ele iniciou o estudo do cadáver humano dissecando músculos, nervos , veias, cérebro e vísceras expondo cada uma de suas peças anatômicas com uma nova apresentação, revolucionando os conceitos da anatomia que ele denominou de “Fábrica Humana”.

Algumas décadas depois, Willian Harvey, levou até ao Rei Charles I, na Inglaterra, o coração de um cão que ele dissecara, conseguindo demonstrar que o sangue circulava pelas artérias e retornava pelas veias às custas do impulso motor provocado pela contração dos músculos do coração. Harvey, estava confirmando a possibilidade de se analisar o corpo humano como uma máquina, que, aos poucos, estava revelando cada um dos princípios mecânicos que punham este corpo em funcionamento.

A filosofia se vê então, obrigada a repensar o mundo e René Descartes, o grande filósofo francês, estabeleceu um novo paradigma. Ele defendia o direito de duvidar de tudo ensinando que apenas o pensamento é livre e sua existência não pode ser questionada. Afirmava de maneira emblemática na sua mais famosa frase, “penso, logo existo”. Descartes, separou o campo das coisas materiais, que denominou de “rés extensa”, do conteúdo da mente, que chamou de “rés cogitans”. Estabeleceu-se desde então, um princípio dualista, ao consolidar-se um mundo físico, independente da vida espiritual que o movimenta. O corpo separa-se da Alma e passa a ser motivo de estudo como qualquer outra máquina que o homem desmonta e torna a montar para conhecer seus mecanismos.

O filósofo Francis Bacon criou na Inglaterra em 1640, o método indutivo na investigação científica, estabelecendo uma nova relação entre causa e efeito. Todos os fenômenos naturais passam a ser compreendidos a partir da observação minuciosa que permite descobrir-se as leis que regem cada um deles. Ficam superadas as Teorias antigas baseadas na intuição ou nas deduções de racionalidade aparente mas, sem qualquer vínculo com a realidade que agora terá que ser quantificada pela observação.

O corpo humano acometido pela doença se transforma e degenera mas, a Ciência agora, usa o bisturi na cirurgia ou na necrópsia e começa pela observação minuciosa a revelar a extensão destas lesões. Giovani Morgani aos 22 anos de idade assombrou a medicina italiana esclarecendo a patologia humana que havia por traz de cada uma das doenças que analisava. Ele reunia os dados clínicos que colhia exaustivamente para depois estudar o cadáver em todas suas perturbações descobrindo a causa de cada uma das moléstias que estudava.

O naturalista Robert Hooke montou um conjunto de lentes criando o primeiro microscópio e consegui identificar num pequeno fragmento de cortiça a formação de um amontoado de lojas que mais tarde foram denominadas de células. A partir do uso do microscópio percebeu-se que plantas e animais e, na verdade, todos os seres vivos eram constituídos destas células que variavam enormemente de forma e tamanho para cada organismo estudado. Marcelo Malpighi usando um microscópio, descobriu pequenos vasos que promoviam a união das artérias com as veias completando o circuito da circulação que Willian Harvey havia descoberto. Faltavam serem descritos os capilares que Malpighi descubriu para se compreender como o sangue passava das artérias para as veias voltando ao coração sem necessidade do pneuma vital sugerido por Galeno.

O médico alemão Rudolf Virchow adquire renome em Berlim aos 36 anos de idade quando criou a primeira revista de anatomia patológica introduzindo o estudo microscópico na patologia, revolucionando, mais uma vez, o estudo no corpo humano, esclarecendo as causas e a natureza das doenças.

Os Alquimistas da Idade Média procuraram em vão descobrir o “Elixir da Juventude” e a “Pedra Filosofal” que permitiria transformar todos materiais em ouro. Suas experiências contribuíram para descobertas importantes na química que, Paracelsus, soube aproveitar empregando o antimônio, o mercúrio e o ouro como recursos terapêuticos com alguns casos de sucesso.

Paracelsus, ao introduzir a química na Medicina, estimula os estudos da digestão, da fermentação dos alimentos, da composição da saliva e dos líquidos do estômago. Inicia-se com a química a idéia da existência de um metabolismo celular que através da digestão poderia explicar o misterioso “fenômeno da vida”.

Nesta época, a Medicina ainda se debate no grande dilema entre a Ciência e a Alma, mas, a cada investigação nova, no entanto, os fenômenos naturais vão se revelando, cada vez mais, como processos químicos e mecânicos que podem ser medidos e reproduzidos nos laboratórios. Vai perdendo sentido a existência de uma “entidade imaterial” no domínio da fisiologia orgânica.

A descoberta das células na estrutura que tece cada um dos parênquimas de cada órgão, punha a descoberto a possibilidade de se compreender a fisiologia de todo organismo. A respiração passa a ser vista como uma troca de gases e o oxigênio foi revelado como fonte de sobrevivência. Os músculos ao se contraírem justificam, a força do coração que bombeia o sangue e a agilidade com que se contraem braços e pernas explicando os movimentos. A mecânica do relógio de cordas ou dos moinhos tinham muito a ver com o conceito de “máquina humana” que aos poucos vinham se revelando na fisiologia de cada uma de suas peças.

A visão mecanicista na compreensão dos fenômenos orgânicos se expandia com os instrumentos de medida e observação quando, na França, Claude Bernard, inicia uma nova fase ao introduzir a experimentação médica sistemática como meio de investigação dos fenômenos fisiológicos. A anatomia já se servira do estudo de animais para correlacionar seus dados com os achados no organismo humano. Agora, no laboratório, Claude Bernard trazia os coelhos que submetia à experiências e controles que lhe permitiram a descoberta da homeostasia. Demonstrou que o equilíbrio químico e hemodinâmico do organismo condiciona a harmonia da vida.

Em pleno século XVIII as propostas materialistas do Mecanicismo ainda não tinham conseguido afastar de vez a Alma da fisiologia humana. É por isto que George Stahl, mantém sua Teoria vitalista na base de todos fenômenos naturais. Os “fluidos” de Galeno são vistos agora como um “éter” que emana da Alma sustentando a vida. A circulação se mantém as custas de uma tonicidade das artérias e os músculos se contraem por força do livre arbítrio que a Alma escolhe e determina.

As linhas de pesquisa na Medicina se detinham e se aprofundavam nos aspectos materiais da anatomia e da fisiologia humana quando, a partir de 1784, a cidade de Viena é agitada pela atividade inusitada do famoso magnetizador Frans Anton Mesmer. Na sua Tese de doutorado, Mesmer, tinha defendido a atuação dos Astros na produção das doenças e propagava que esta influência era exercida por um “fluido” que penetrava todas as coisas. Mesmer chamou este elemento imaterial de “fluido magnético” e supunha que ele podia ser transferido de uma pessoa para outra. Na sua clínica, o Dr. Mesmer, dizia curar seus pacientes às custas da transmissão destes fluidos que ele conseguia mobilizar em seus pacientes.

Durante as aplicações do fluido magnético, Mesmer, produzia em suas pacientes um estado de agitação convulsiva e sonolência que ele chamou de “crise sonambúlica”. As pessoas que entravam nestas crises eram extremamente sensíveis ao comando de Mesmer e, mais tarde, seus discípulos vieram a confirmar, que a crise mesmérica era provocada, mais por sugestão, que pela ação do fluido magnético. Com Mesmer, estavam nascendo as primeiras experiências que, de alguma maneira, permitiam a investigação da mente humana nos domínio da sua intimidade. Certas pessoas se mostravam extremamente sensíveis à sugestão sendo predispostas a obedecer e executar atitudes e comportamentos sugeridos após despertarem da crise sonambúlica. Este fenômeno foi descoberto por um discípulo de Mesmer, o Marques de Puysègur, que o reconheceu como efeito de sugestão pós-sonambúlica.

Em Manchester, na Inglaterra, o Dr. James Braid publicou, em 1840, seus estudos sobre o mesmerismo concluindo que podia induzir a “crise” mantendo o paciente com o olhar preso a um objeto brilhante e com a atenção fixada em palavras repetidas pausadamente sugerindo relaxar e dormir. O Dr. Braid propunha que o sonambulismo descoberto por Mesmer, estaria relacionado diretamente com a atividade cerebral, tendo denominado este estado de “sono nervoso” ou hipnose.

O paciente sob hipnose pode receber sugestões e ficar livre de sintomas que o molestam ou de traumas psíquicos que o afetam. Aprofundando o transe ele pode ser submetido a cirurgia sem sentir dor e apresentar pouco sangramento quando cortado. Estas propriedades da hipnose foram percebidas desde o início da sua descoberta e, em meados do século passado, na França, numa clínica rural próximo a Nancy, um médico abnegado, o Dr. Liébeault, chegou a tratar por mais de vinte anos uma enorme clientela com a qual ele conseguia enorme sucesso aplicando as técnicas da hipnose. Nesta ocasião, começava a se destacar a eminente figura do neurologista francês, Jean Martin Charcot, que é tido como o fundador da neurologia francesa ao criar no Hospital de La Salpetriere, em Paris, a sua Escola Neurológica. Entre os seus assistentes encontravam-se Pierre Janet e Sigmund Freud cujos trabalhos vieram a ter grande repercussão na compreensão dos processos mentais. Por influência de Charles Richet, fundador da Metapsíquica e famoso fisiologista francês, o Dr. Charcot passou a se interessar por hipnose utilizando-a no tratamento de suas doentes portadoras de histeria. No quadro clínico da histeria podem ocorrer paralisias, anestesia e perda de fala que são totalmente revertidas através da sugestão hipnótica. A relação entre histeria e hipnose serviu de motivo para calorosa polêmica travada entre os médicos da Clinica de Nancy e o professor Charcot. Em Nancy afirmava-se que a hipnose seria uma condição humana possível de se provocar em qualquer pessoa, ao passo que na escola de Charcot acreditava-se que apenas a mulher histérica era passível de ser hipnotizada. No meio desta polêmica, Sigmund Freud, conhece a Clinica de Nancy e inicia com a hipnose seus primeiros estudos que resultaram no grande monumento da psicanálise. Conforme Freud e Pierre Janet puderam perceber, a histeria parecia provocar uma cisão na personalidade e a paciente perdia o controle dos seus atos.

Pierre Janet introduziu o conceito de automatismo psicológico, no qual, em certas circunstância, o psiquismo provocaria comportamentos ou atos motores automáticos. Neste grupo de manifestações, Janet, incluiu a catalepsia, a psicografia e relatos semiconsciente que ele denominou de vidas sucessivas. Estava diante de Janet, todo um material precioso de manifestações mediúnicas embora ele não o tenha conseguido identificar como sendo atividade espiritual ou, como teria dito Charles Richet, como manifestações de forças inteligentes estranhas ao ambiente.

Sigmund Freud, não se revelou um bom hipnotizador, tendo baseado seu diálogo terapêutico na livre associação, na análise dos sonhos, no significado dos atos falhos e na regressão aos fatos e conflitos da infância. Freud, põe a descoberto a grande realidade do inconsciente, no qual, cada um de nós faz submergir os desejos não manifestos, reprimidos pela censura do consciente. Cada um dos nossos comportamentos passa a ser compreendido como manifestações destes desejos ocultos que, de alguma forma, vem a tona pelas emoções, pelos gestos impensados ou pelas decisões de racionalidade aparente.

Freud, pela primeira vez, organiza uma estrutura para nossa constituição psíquica. O Id, o Ego e o Superego constróem nosso aparelho psíquico que começa a se organizar nas fases que se iniciam logo após o nascimento: a fase oral, a anal, a narcisista e finalmente a maturidade sexual. Os conflitos vivenciados em cada fase ou a possibilidade de se estacionar em uma delas, vão produzir as manifestações neuróticas que nos martirizam pela vida a fora.

O inconsciente, trazido a tona por Freud, revela um mundo interior jamais suspeitado até mesmo pelos grandes filósofos da Grécia. Neste inconsciente, está representado todo o conflito humano, na sua mais dramática complexidade. A definição de quem somos, depois de Freud, teve que obrigatoriamente vasculhar os porões do inconsciente em que cada um de nós deixa submergir seus mais ardentes desejos ou sufocar seus maiores tormentos.

Pouco antes do surgimento da Escola Neurológica de La Salpêtrière, o médico alemão Franz Joseph Gall, imaginou existir uma relação entre as diversas aptidões humanas e as saliências palpáveis no crânio das pessoas que examinava. Ele catalogou a benevolência, a humildade, a inteligência, a firmeza de caráter, a combatividade entre inúmeras outras habilidades como possíveis de se confirmar, no crânio, a sua maior ou menor desenvoltura. Esta hipótese teve o mérito de reconhecer, pela primeira vez, que existem no cérebro, áreas especializadas para cada atividade, o que era um grande avanço para época. Este estudo pseudo-científico denominado por Gall de frenologia, mostrou-se totalmente incorreto e caiu no descrédito, tendo nos dias de hoje, interesse apenas histórico.

O método de avaliação, em que se atribui às aparências externas, uma relação direta com as aptidões psicológicas ou com as características da personalidade, teve, de novo, grande aceitação com os estudos de Cesare Lombroso. Ele sugeria haver, na aparência fisionômica do indivíduo, traços, que nos permitiriam reconhecer uma propensão para o crime. A criança já nasceria, de alguma forma, predestinada a se tornar um criminoso pelos traços fisionômicos que herdasse. Na doutrina forense esta tese prevaleceu por muito tempo, notando-se até hoje, sinais que refletem sua aceitação. Cada um de nós sabe, e muito bem, como somos, de maneira insensata, tentados a dar parecer e fazer julgamentos precipitados, sobre as pessoas que nos cercam, emitindo observações baseadas numa simples aparência de um olhar ou de um sorriso. Sabemos, também, pela experiência pessoal, que na maioria das vezes as aparências já nos pregaram grandes decepções.

Foi a partir de 1869 que o cirurgião e antropólogo francês Paul Brocá confirmou a especialização das áreas cerebrais no desempenho de cada uma de suas funções. Ele confirmou que a área da fala, mais precisamente da linguagem falada, se localizava no pé da circunvolução frontal esquerda e, a partir daí, uma série de estudos foram mapeando, no cérebro, cada uma de suas inúmeras funções. Criou-se assim, um novo campo de estudo, no qual, se via no cérebro, a justificativa de todos nossos movimentos, percepções, desempenhos, reações reflexas e, mais tarde, até mesmo as aptidões psicológicas e as emoções, se renderam, revelando também suas localizações anatômicas. Surgiu a idéia de que a mente não existiria independente do cérebro com queria René Descartes, e que seria mero produto emanente da complexa atividade cerebral. O dualismo Corpo-Alma parecia, agora, que deveria subjugar-se ao conceito moderno de interação cérebro-mente no qual ambos seriam indissociáveis.

Recentemente, o avanço da fisiologia cerebral foi enriquecido com os estudos das formulações matemáticas que constroem computadores cada vez mais complexos. A relação entre a complexidade dos computadores e a estrutura das redes de neurônios que se organizam no cérebro, fez surgir a ciência que levou à criação da Inteligência Artificial. Esta forma de equacionar soluções que exigem a rapidez nos cálculos e a possibilidade da máquina tomar decisões, permitiu a fabricação de robôs extremamente versáteis, ao mesmo tempo que fez surgir com mais força, a antiga comparação do homem com a máquina, com o agravante agora, de que é a máquina que está imitando o Homem e com perfeição cada vez maior.

Nas últimas décadas do século passado o meio científico foi abalado pela mais espetacular Teoria sobre as origens da vida e a natureza do ser humano. Foi Charles Darwin que em 1869 publicou, depois de 20 anos de hesitação, sua Teoria sobre a evolução das espécies. Os seres vivos passaram a ter uma origem comum primitiva e, no decurso da sobrevivência, os mais aptos foram paulatinamente sendo selecionados numa competição permanente de adaptação para proliferação das espécies. Cai por terra a visão Criacionista de origem bíblica, para surgir uma proposta revolucionária que mantém para o ser humano um vínculo biológico com todos os demais seres vivos. Somos produtos de um processo de seleção natural onde prevaleceu a maior capacidade de adaptação para permitir que o material genético pudesse dar seqüência às gerações futuras.

Além dos aspectos biológicos que nos prende aos animais que nos precederam, estão implícitas também, nesta evolução milenar, às aptidões psicológicas, comprovadas agora, como resultado desta jornada que nos permitiu acumular nas experiências da sobrevivência, as aquisições mentais que fizeram desabrochar o instinto, o discernimento, o raciocínio e a inteligência. Desta maneira, os biólogos de hoje, identificam em cada um dos nossos comportamentos, mesmos os mais sofisticados relacionados com as emoções, com a racionalidade ou com o aprendizado corriqueiro, uma ligação direta com o comportamento animal das espécies que coabitam conosco todo cenário da vida que povoa nosso planeta. Assim, a ligação afetiva com os filhos, a cooperação com os elementos da mesma espécie, a aquisição de linguagem, os acertos e erros nos processos de aprendizado, as reações reflexas de sobrevivência que nos predispõe a lutar ou fugir, a escolha de caminhos mais adequados, o julgamento que nos permite distinguir o certo do errado tem, todos estes comportamentos um fundamento biológico que nossos ancestrais primitivos foram acumulando no decorrer dos milênios. Com esta percepção da evolução das espécies, a condição humana, em termos biológicos não nos faz superior ou inferior a qualquer um dos animais que transitam conosco nesta jornada evolutiva.

Foi nesta mesma ocasião, quando Charles Darwin assombrava o mundo com a Teoria da Evolução das Espécies, que surge na França a codificação da Doutrina Espírita por Allan Kardec. Num questionário dirigido aos Espíritos, Allan Kardec, recebeu as revelações de uma doutrina que posicionava definitivamente a origem da vida, a natureza do ser humano, o significado do seu sofrimento e o destino que o futuro lhes reserva. Somos todos Espíritos imortais que ocupamos temporariamente o corpo físico para nosso desenvolvimento e progresso espiritual. Todo ser vivo está sujeito à evolução que, através de vidas sucessivas favorece a oportunidade de renovação e crescimento com destino à perfeição. Somos todos irmãos em situações diversas de aprendizado, vivenciando experiências onde o princípio espiritual estagiou no mineral, na planta e nos animais para chegar a desfrutar milênios depois da condição de ser humano. Neste e noutros mundos, continuaremos a jornada evolutiva pelo infinito a fora. Nosso cérebro não tem ainda condições de fixar em sua memória as experiências de nossas vidas anteriores mas, o inconsciente de cada um de nós, retém os dramas fundamentais destas vivências que, com freqüência, estão repercutindo em nossas decisões e comportamentos. Estamos todos mergulhados num mundo espiritual que nossos sentidos grosseiros ainda não nos permite perceber em sua plenitude. Este mundo espiritual é habitado pelos espíritos desencarnados que estabelecem conosco uma relação contínua de mútua interferência. Os Espíritos participam de nossos mais íntimos pensamentos e, com freqüência, envolvem-se em nossos acertos e erros durante toda nossa vida. Através da aptidão da mediunidade, determinadas pessoas tem a capacidade de entrar em sintonia com os espíritos desencarnados e receber ostensivamente sua comunicação. No futuro todo homem terá esta aptidão e o Homem mediúnico terá condições de transitar livremente pelas dimensões do plano espiritual. O Espírito é energia de criação divina que atua presidindo todos os fenômenos físicos e psicológicos que se processam em nosso organismo. Para que esta ação possa ocorrer entre a dimensão física e a espiritual se situa o perispírito, ou corpo espiritual, que serve de intermediário entre o corpo o e espírito. Através dos fluidos que constituem o perispírito, é que se processam todos os fenômenos mediúnicos e, quando um espírito se comunica com o outro, seus pensamentos se transmitem de um para o outro através dos fluidos que emanam de seus respectivos perispíritos. Através da atuação persistente do pensamento o perispírito assume a forma que o espírito lhe impuser podendo assim, cada espírito, se apresentar com a aparência que considerar ser mais apropriada. As nossas condutas, principalmente morais, imprimem em nosso perispírito as influências que nossos desejos bons ou maus fixam no campo de ação do nosso perispírito. Assim, cada um de nós. não tem como disfarçar sua verdadeira aparência psíquica. quando se mostra no plano espiritual. Em nossa volta, os fluidos espirituais imprimem as formas que nossos pensamentos constróem por força dos desejos que cultivamos com intensidade.

A Doutrina Espírita, como se percebe, ampliou o conhecimento sobre o ser humano. A Anatomia tem que acrescentar agora o corpo espiritual e suas relações com o mundo espiritual. A fisiologia é forçada a entender o Espírito como agente direto dos fenômenos vitais e a patologia tem que considerar as construções que o pensamento materializa no campo de ação do corpo espiritual e seus desdobramentos na auto-obsessão.

É este ser humano com sua transcendência e seu destino comprometido com a perfeição que o Espiritismo propõe para nossa reflexão. Às custas deste esclarecimento veremos nascer um Homem comprometido com suas origens espirituais. O Homem mediúnico, estendendo nossas sensibilidades para as dimensões espirituais. vai ampliar os horizontes da humanidade e a sua participação na vida deste planeta.


endereço: http://www.terraespiritual.locaweb.com.br/espiritismo/artigo500.html
imagem: amigofraternidade.blogspot.com



quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

AUTISMO, NEURÔNIOS - ESPELHO E MARCAS ESPIRITUAIS


0 – Introdução:


Estamos há 150 anos buscando uma integração cérebro-mente –espírito e ao analisarmos a história das descobertas e avanços científicos percebemos que ela é permeada por acidentes e coincidências inacreditáveis, o que nos revela que não estamos sós nesta jornada.

No que se refere ao autismo, temos bons exemplos disto: dois homens em lugares distintos, numa mesma época, sem se comunicarem, dão o mesmo nome à doença e 50 anos depois as células doentes do autismo são descobertas acidentalmente...


I – História:


Na década de 40, dois médicos, o psiquiatra americano Leo Kanner e o pediatra austríaco Hans Asperger, descobriram o distúrbio de desenvolvimento que afeta milhares de crianças em todo o mundo. Foi uma descoberta isolada – nenhum dos dois sabia o que o outro pesquisava, e ambos deram o mesmo nome à síndrome: Autismo. Foi considerada uma “coincidência inacreditável”, mas fica claro que houve uma intervenção do plano espiritual ao nos convidar para dar mais atenção àquelas crianças e ampara-las no seu sofrimento.

A palavra autismo vem do grego autos, que significa “de si mesmo”. O nome é perfeito. O traço mais flagrante da doença é o isolamento do mundo exterior, com a conseqüente perda de interação social. Em vez de dedicar-se à exploração do mundo exterior, como acontece normalmente, a criança autista permanece dentro das fronteiras de seu próprio universo pessoal.


II – Conceito, quadro clínico e epidemiologia:


Segundo a OMS, o autismo é um transtorno invasivo do desenvolvimento, definido pela presença de desenvolvimento anormal que se manifesta antes da idade de 3 anos e pelo funcionamento anormal em três áreas: interação social, comunicação e comportamento restrito e repetitivo.

O comprometimento da interação social é observado na falta de empatia, na falta de resposta às emoções de outras pessoas e no retraimento social.

Já o comprometimento da comunicação é percebido na falta de uso social da linguagem, na falta de linguagem não-verbal, na pobreza de expressão verbal e no comprometimento em jogos de imitação.

O autista também apresenta um comportamento restrito e repetitivo, o que pode ser observado através de estereotipias motoras e preocupações estereotipadas com datas, horários e itinerários.

Podem também existir sintomas inespecíficos como fobias, auto-agressão, ataques de birra e distúrbios alimentares.

Há deficiência mental em cerca de ¾ dos casos, embora todos os níveis de Q.I. possam ocorrer em associação com o autismo. Às vezes há capacidade prodigiosa para funções como memorização, cálculo e música.

Segundo recentes publicações da Revista Brasileira de Psiquiatria, publicação da ABP, alguns autores sugerem que o diagnóstico já pode ser estabelecido por volta dos 18 meses de idade. Outras informações epidemiológicas mostram que há de 1a 5 casos em cada 10.000 crianças e que a doença ocorre em meninos 2 a 3 vezes mais do que em meninas.


III - Causas:


A maioria dos casos de autismo tem causa desconhecida. Alguns casos são presumivelmente decorrentes de alguma condição médica das quais infecções intra-uterinas (como a rubéola congênita), doenças genéticas (como a síndrome do x frágil) e ingestão de álcool durante a gravidez (provocando a síndrome fetal alcoólica) estão entre as mais comuns.


IV - Neurônios-espelho:


Descobertas científicas recentes apontam para um defeito nos neurônios-espelho como causa do autismo. Estes neurônios são um subconjunto de células que refletem no cérebro do observador os atos realizados por outro indivíduo (se eu pego um objeto, alguns neurônios são ativados em meu cérebro; se eu observo o indivíduo pegando o objeto, os mesmos neurônios são ativados em meu cérebro como se eu estivesse pegando o objeto).

Os neurônios-espelho foram descobertos, acidentalmente, no início da década de 90 por pesquisadores italianos da Universidade de Parma, que estudavam um determinado tipo de neurônio motor de macacos. Este neurônio disparava quando o macaquinho pegava uma fruta e para surpresa de todos, disparou também quando ele observou um dos pesquisadores pegar a fruta, como se ele mesmo estivesse pegando-a para comer.

Uma série de experimentos realizados posteriormente demonstrou a existência destes neurônios no cérebro humano. Portanto podemos dizer que através dos neurônios-espelho, nós podemos compreender “visceralmente” um ato observado. Nós sentimos a experiência vivida por outro em nossas mentes. Mas não é só esta a função destes neurônios.

Diversos estudos realizados nas Universidades da Califórnia e College de Londres e no centro de Pesquisa Jülich, na Alemanha, demonstraram as funções de reconhecimento de intenções dos atos, de emoções vividas por outra pessoa (então se uma pessoa te diz: “eu sei o que você está sentindo”, talvez ela não saiba o quanto esta frase é verdadeira) e o importante papel de aprendizado por imitação de novas habilidades, como a linguagem por exemplo.

A partir do final da década de 90, pesquisadores da Universidade da Califórnia se empenharam em determinar uma possível conexão entre neurônios-espelho e autismo, já que ficou demonstrada a associação entre essas células e empatia, percepção dos atos e intenções alheios e aprendizado da linguagem, funções deficientes nos autistas.


V - O sistema espelho "quebrado":


E realmente, estudos realizados na Universidade de Saint Andrews, na Escócia, Universidade de tecnologia de Helsinque, na Finlândia, além dos estudos na Universidade da Califórnia, provaram que a atividade dos neurônios-espelho dos autistas é reduzida em diversas áreas cerebrais:

- No córtex cingulado anterior e insular, o que pode explicar a ausência de empatia;

- No córtex pré-motor, o que pode explicar a sua dificuldade de perceber atos alheios;

- E no giro angular, explicando problemas na linguagem.


VI - Marcas espirituais – patogênese remota:


Apesar dos avanços científicos, o autismo permanece um mistério, um desafio, um enigma que só se revelará mais claramente ao nosso entendimento a partir da introdução da realidade espiritual.

Já se sabe que disfunções neurológicas (como as disfunções dos neurônios-espelho) produzem repercussões de natureza autística, mas continuaremos com a pergunta maior: que causas produzem as disfunções neurológicas? Se a responsabilidade for atribuída aos genes, a pergunta se desloca e se reformula assim: que causas produzem desarranjos nos complexos encaixes genéticos?

Segundo a literatura médico-espírita e orientações mediúnicas recebidas no GEEP da Associação, o autismo como outros graves distúrbios mentais (psicoses por ex.) resulta de graves desvios de comportamento no passado, de choques frontais com as leis que regem o universo. Então, o que antecede à predisposição genética e às disfunções neurológicas são as graves faltas pretéritas.

Entre o passado de faltas e as presentes alterações genéticas, neurológicas e mentais do autismo encontramos uma ponte que liga estes dois momentos distintos. Esta ponte é o próprio processo de reencarnação. Aqui se encontra a formação do autismo. Há duas possibilidades ou vias de ligação:

1a O reencarnante com profundas lesões perispirituais produzindo alterações neurológicas e a conseqüente formação do autismo.

2a O reencarnante rejeita a reencarnação levando à formação do autismo.

Na 1a possibilidade, a consciência do reencarnante marcada pela culpa, acarretou severos danos no perispírito e conseqüentes lesões no SNC. Há uma incapacidade de organizar um corpo sadio na atual encarnação. Neste caso a entidade espiritual fica aprisionada no corpo deficiente, sem conseguir estabelecer comunicação. Esta possibilidade ou via de formação do autismo é defendida por alguns estudiosos que acreditam que certos autistas, constituem angustiantes tentativas de se entender com o mundo externo. Há casos de autistas que alcançaram certa melhora e relataram que muitas vezes entendiam o que as pessoas lhe diziam, mas não sabiam como responder verbalmente. Recorriam, por isto, aos gritos e ao agitar das mãos, único mecanismo de comunicação que dispunham.

Na outra possibilidade, via ou ponte de ligação entre passado de faltas e autismo, temos o indivíduo com a consciência marcada pela culpa, temendo colher os frutos em uma nova existência compulsória, rejeitando a reencarnação, provocando autismo. No livro “Loucura e obsessão”, de Manoel Philomeno de Miranda, temos a confirmação da hipótese de rejeição à reencarnação. Nos capítulos 7 e 18, o Dr. Bezerra de Menezes explica que o indivíduo com a consciência culpada é reconduzido à reencarnação e acaba buscando o encarceramento orgânico para fugir sem resgatar as graves faltas do passado. Trata-se de um vigoroso processo de auto-obsessão, por abandono consciente da vida. Conclui dizendo que muitos espíritos buscam na alienação mental, através do autismo, fugir às suas vítimas e apagar as lembranças que o atormentam.


VII - Marcas espirituais – os sintomas:


Considerando a possibilidade de rejeição à reencarnação podemos fazer uma nova leitura dos sintomas autísticos. Começando pelo isolamento, sinal de que o autista não admite invasões em seu mundo; como porém, a participação mínima do lado de cá da vida é inevitável, sua manifestação se reduz a alguns movimentos repetitivos como agitar as mãos, girar indefinidamente um prato ou a roda de um brinquedo, qualquer coisa enfim, que mantenha a mente ocupada com rotinas irrelevantes que o livrem do convívio entre as pessoas.

Uma explicação possível para o sintoma autista de girar sobre si mesmo, seria a produção de tonteira através da rotação, provocando um passageiro desdobramento entre perispírito e corpo físico, livrando a criança, momentaneamente, da prisão celular.

As crianças autistas muitas vezes manifestam rejeição a alguma parte do corpo, através de auto-agressão. Isso pode ser um sinal de rejeição à própria personalidade.

Quanto à relação ambígua consigo mesma, manifestada pela troca dos pronomes pessoais (referindo-se a si mesma como “tu” e ao outro como “eu”), podemos pensar na possibilidade de obsessão espiritual, já que com os desacertos do passado, muitos são os desafetos.

Uma análise mais profunda da disfunção da linguagem, pode ser feita a partir da hipótese proposta por Hermínio Miranda em seus livros “A alquimia da mente” e “Autismo, uma leitura espiritual”. Segundo o autor, normalmente ao reencarnar, o espírito se instala à direita do cérebro e por 2 ou 3 anos passa para o hemisfério esquerdo a programação da personalidade daquela encarnação. Neste período é formado o mecanismo da linguagem. No caso do autismo o espírito permanece –autísticamente- no lado direito, área não-verbal do cérebro, sem participar deste processo. É natural que este ser que vem compulsoriamente, sem interesses em envolver-se com as pessoas e o mundo, torne o seu sistema de comunicação com o ambiente, o mais rudimentar e precário possível. Encontramos informações que reforçam esta hipótese:

-1a sabe-se que o corpo caloso, estrutura que liga os dois hemisférios cerebrais, não desempenha durante os primeiros 2 ou 3 anos de vida, a função de separar faculdades dos dois hemisférios.

-2a a partir do segundo ou terceiro ano de vida é que o hemisfério esquerdo assume a linguagem.

-3a o autismo eclode até o terceiro ano de vida quando se percebe uma interrupção do desenvolvimento da linguagem.

Parece então que até os 2-3 anos as crianças vão se comunicando através dos 2 hemisférios, e a partir de então só se comunica quem tiver implantado no h.esquerdo esta função, o que não acontece com o autista.


VIII - Tratamentos:


O autismo é um quadro de extrema complexidade que exige abordagens multidisciplinares, visando a questão educacional e da socialização, assim como o tratamento médico.

O tratamento médico é realizado com medicamentos para reduzir sintomas como agitação e agressividade.

É importante dizer que pesquisas têm sido dirigidas no sentido de se encontrar medicamentos que estimulem a liberação de neurotransmissores específicos ou reproduzam os seus efeitos. Neurotransmissores que sejam responsáveis pelo funcionamento químico dos neurônios-espelho.

Do ponto de vista do espírito, por mais paradoxal que possa parecer, o remédio para o autismo é o próprio autismo como forma de drenagem perispiritual.


IX - Prognóstico:


Alguns pacientes autistas conseguem alcançar um certo nível de autonomia. A literatura mostra que alguns fatores estão ligados a um melhor prognóstico:

1- Significativa destreza verbal adquirida antes de instalada a doença.

2- Diagnóstico precoce e concentração de esforços tão cedo quanto possível. Tratamento e terapia devem ser iniciados quando a anormalidade é observada na criança pela 1a vez.


X - Conclusão:


Na certeza de que a diferença mais importante entre nós e nossos pacientes está em um pouco mais de boa vontade de nossa parte, e isto foi dito mais de uma vez pelo nossos mentores, cito mais uma vez o sr Hermínio Miranda para concluir este trabalho.

É necessário construir uma ponte para ligar o mundo externo ao mundo íntimo do paciente. É importante que não nos comportemos de forma autística, nos fechando nos nossos mundos de clichês, cheios de padrões, desinteressados em andar metade do caminho, na direção do paciente.

Uma possibilidade é tentar interpretar os seus sinais não-verbais. É bem verdade que não há muitas palavras no dicionário deles, mas a linguagem universal do amor também é não-verbal. Para se expressar através dela, há os gestos, a vibração sutil da emoção, da solidariedade, da paciência, da aceitação da pessoa como ela é, não como queremos que ela seja.

Se estivéssemos no lugar deles, como gostaríamos de ser tratados? É presumível que eles estejam fazendo tudo que lhes seja possível, dentro de suas limitações. Com um pouco de boa vontade de nossa parte, talvez concordem em tocar a mão que lhe estejamos oferecendo a fim de saltarem o abismo que nos separa!


Trabalho apresentado no MEDINESP, Congresso Médico-Espírita Nacional e Internacional, realizado em junho de 2007, São Paulo, SP. (Carlos Eduardo Sobreira Maciel - carlos.amemg@hotmail.com )


XI - Referências bibliográficas:


1- Revista Scientific American

2- Revista Brasileira de Psiquiatria

3- CID 10

4- Autismo, uma leitura espiritual - Herminio Miranda

5- Alquimia da Mente - Herminio Miranda

6- Orientações mediúnicas, Grupo de Estudos de Espiritismo e Psiquiatria da AMEMG



endereço e imagem: internet


terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

ECTOPLASMA - ROMPENDO A FRONTEIRA FÍSICA


No mundo das manifestações espirituais, vários fatos e fenômenos compõem um vasto conjunto de provas da existência de uma realidade espiritual e de como essas energias conscientes entram em contato com o mundo físico. Uma das mais impressionantes manifestações é a formação do ectoplasma, um fenômeno que ainda aguarda uma investigação mais efetiva.

No fim do século 19 e início do século 20, houve uma intensa busca para se compreender os fenômenos espirituais que tomavam conta dos salões onde ocorriam os chamados fenômenos espirituais. Evidentemente, a base desses encontros eram os contatos com entidades espirituais, mas também significavam divertimento – algo de novo sendo introduzido numa sociedade que começava a se preparar para encarar essa nova realidade. A intensa utilização de médiuns e os fenômenos que eles apresentavam, também levaram a uma vulgarização dos acontecimentos do "mundo do além", especialmente devido à grande quantidade de fraudes, muitas delas desmascaradas pelos cientistas que pesquisavam o assunto.

A intensidade dos fenômenos e a profusão dos “poderes” dos médiuns – que passaram a surgir em cada esquina – originaram uma grande quantidade de estudos sobre tais fenômenos, desenvolvidos por cientistas credenciados. O resultado foi a elaboração de vários trabalhos e documentos que atestavam a existência de eventos parapsicológicos legítimos, como a clarividência, a materialização, a comunicação com os mortos, etc.

De todos os fenômenos estudados, um dos mais impressionantes, atraindo inúmeras pessoas e os jornais sensacionalistas, foi a ectoplasmia ou materialização. Centenas de casos, devidamente comprovados, foram fotografados e medidos por diversos pesquisadores que relataram detalhadamente as manifestações e produziram uma base científico-espiritualista para compreender a produção nos mais diversos ambientes e condições da “matéria espiritual”.

Como sempre ocorre com os fenômenos espirituais, os enganadores tentaram se aproveitar da credulidade e da fé das pessoas, muitos deles sendo desmascarados como fraudes. Alguns faziam uso de luvas, vapores e de ilusionismo para enganar a platéia que ia ver os “espíritos”. Essa situação acabou por gerar uma grande dose de desconfiança e a perda de prestígio dos fenômenos parapsicológicos na comunidade científica de forma geral (que, em grande parte, se mantém cética até os dias atuais, apesar das evidências reunidas).

Contudo, existiam médiuns que produziam eventos legítimos de materialização que podiam ser devidamente comprovados como reais e incontestáveis. Muitos pesquisadores, mesmo contra as opiniões contrárias, continuaram pesquisando e descobrindo as peças que formavam o quebra-cabeça das materializações.

As idéias apresentadas nos trabalhos de diversos estudiosos, levaram à aceitação de que o ectoplasma é gerado mediante uma notável interação entre diversos planos físicos e espirituais, durante a qual as vibrações etéricas acumulariam matéria das pessoas envolvidas nas manifestações e reproduziriam as intenções do espírito manifestado de uma forma consistente e material.

Os estudiosos concluíram que, na verdade, existe um número reduzido de pessoas capazes de produzir casos autênticos de ectoplasmia, mesmo sem ter de recorrer a ritos específicos ou realizar as chamadas "sessões". Acredita-se que os médiuns aproveitam as energias etéricas, magnéticas e do seu envolvimento com o mundo espiritual, somadas às vibrações emanadas das pessoas presentes ao experimento, e assim produzem as energias e condições necessárias para a manifestação.

No Oriente, essa idéia já foi muito discutida e difundida, além de experimentada, ao longo de milhares de anos. Aqueles que possuem tais poderes (siddhas) não são necessariamente sábios (rishis, pessoas de conduta irrepreensível e de profundo saber espiritual); na verdade, muitos deles fazem uso de suas capacidades para ganhar a vida, como se fossem pianistas, desenhistas ou qualquer profissão que exigisse algum dom especial.

O Médium

A manifestação de ectoplasma causa esgotamento físico nos médiuns, pois eles cedem parte de sua “energia vital” para produzir e enriquecer a materialização periespiritual (Gilberto, no Livro dos Espíritos, eles escrevem perispírito. Portanto, por analogia, deveria ser perispiritual. Contudo, como, atualmente, não tenho sido uma leitora assídua dos livros kardecistas, gostaria que você confirmasse isso.) Isso foi devidamente comprovado por uma série de investigações realizadas por W. J. Crawford, professor de Engenharia Mecânica da Queens University, de Belfast. Ele se dedicou a estudar uma médium famosa na Irlanda, conhecida como Goligher, e descobriu que, durante as sessões (quando surgia o ectoplasma), tanto a médium quanto seus assistentes perdiam peso. Com um conjunto complexo de medidas, ele determinou que, nas manifestações de ectoplasma (quando ele saía pela boca da médium), ela perdia cerca de vinte e seis quilos (algo considerável para qualquer ser humano), e ainda anotou em seus estudos que a perda de peso de massa era evidente no corpo da médium, pois ela definhava a olhos vistos.

O professor Crawford, segundo foi relatado por várias pessoas próximas, estabeleceu uma teoria coerente para explicar o surgimento e a materialização do ectoplasma, plausível tanto para os cientistas quanto para os espíritas; só que essa teoria nunca chegou ao conhecimento do público, pois ele nunca a revelou a quem quer que fosse. Desde então, surgiram vários boatos, mas nada foi revelado, nem mesmo após a sua morte.

Um trabalho notável no que diz respeito à comprovação científica da ectoplasmia foi desenvolvido pelo barão von Schrenk-Notzing. Ele conseguiu obter um pedaço de ectoplasma e realizou mais de uma centena de exames laboratoriais. Descobriu-se a presença de leucócitos (células do sistema imunológico humano) e células epiteliais (pele, a primeira camada celular), colocando em cena os possíveis mecanismos psicofísicos da ectoplasmia.

Essa análise corroborava a idéia de que os médiuns contribuem ativamente com a sua própria “matéria” para a formação das materializações. O barão von Schrenk-Notzing ampliou as definições existentes sobre o ectoplasma, afirmando: “É uma matéria inicialmente semifluida, que possui determinadas propriedades da matéria viva, especialmente a capacidade de mutação de movimentos e de tomar diversas formas”. Como podemos perceber, o barão tinha a idéia de que o ectoplasma era algum tipo de interação orgânica entre o médium e as forças espirituais.

Os cientistas e outros pesquisadores também coletaram centenas de fotografias das sessões de materialização; elas mostram imagens com formas e estruturas variadas. Geralmente, surgem em torno do médium das mais diversas maneiras: às vezes, de forma difusa, outras, de maneira bastante nítida. Formam rostos, fios translúcidos, pedaços de corpos, mãos e outras estruturas não-identificáveis.

Algumas das materalizações mais surpreendentes da época foram produzidas pelas médiuns Eva Carrière e Eusapia Palladino. Mesmo com um histórico polêmico quanto à autenticidade de suas manifestações, a produção de ectoplasmia das médiuns foi fotografada e analisada.

Um evento notável em sua extensão e nas conseqüências científico-espirituais, foi o ocorrido em 1913, durante uma convenção espírita em Moscou. Nela, um grupo de investigadores perguntou a um espírito materializado se havia algum problema em se realizar uma intervenção cirúrgica em seus antebraços ectoplasmáticos, para que pudessem ver a substância da qual eram compostos. Ele aceitou, impondo como condição que ele iria se preparar para que o médium nada sofresse no processo. Após cinco meses, os investigadores e o médium voltaram a se reunir, e a operação foi realizada. Em um dos antebraços os pesquisadores encontraram uma constituição perfeitamente humana (ossos, nervos, sangue, etc,), enquanto o outro era formado por uma substância gelatinosa, clássica nos casos de ectoplasmia, e sem definição de partes constituintes.

Esse fato contribuiu para colocar a materialização ectoplasmática novamente sob um prisma científico. Alguns experimentos chegaram a extremos, como no caso de médiuns colocados em cadeiras e equipamentos especialmente projetados para evitar fraudes e, ainda assim, os eventos ocorreram e foram detectados por aparelhos sensíveis , deixando de lado qualquer dúvida sobre a autenticidade do fenômeno.

Explicando o Ectoplasma

As teorias que procuram explicar a ectoplasmia partem de um ponto comum: a existência de uma forma energético-espiritual, denominada perispírito. Essa substância preencheria o corpo material enquanto encarnado, servindo como receptáculo da consciência durante a estada do ser no mundo físico-espiritual. É pela interação entre os perispíritos desencarnados e as energias espirituais dos encarnados que médium e espírito podem, então, romper os limites mentais e as fronteiras físicas, produzindo o ectoplasma.

Esse perispírito foi relatado por vários médiuns, que o descreveram das mais variadas formas. Geralmente, é visto como um vapor branco-azulado que se desprende dos corpos de pessoas mortas, saindo pela região do chacra coronário (alto da cabeça). Essa “matéria” teria uma existência intermediária entre as formas densa (atômica) e espiritual (etérea).

Segundo alguns estudiosos, isso também é comprovado por meio das fotografias Kirlian, que mostram uma estrutura energética envolvendo os mais diversos objetos e, em específico nos seres humanos, mostram uma profusão de cores e linhas que lembram os “caminhos de luz” descritos nos antigos textos orientais sobre a acupuntura, quando falam a respeito das linhas energéticas.

Segundo o que se conhece atualmente dos mecanismos da ectoplasmia, o médium usa seu perispírito para interagir com o perispírito do desencarnado; cedendo material orgânico e energético, gera o ectoplasma e auxilia, com sua carga cultural e imaginativa, para construir a materialização.

Não há qualquer dúvida quanto à razão da ectoplasmia atrair tanta atenção: é uma manifestação visível, palpável, muitas vezes mensurável. Ao contrário de outros fenômenos espirituais, ou parapsicológicos, se preferirem, causa um impacto mais imediato. E não são poucos os que se dedicam ao seu estudo que afirmam ser a ectoplasmia o fenômeno parapsicológico que apresenta o maior número de provas. Além disso, permite que os pesquisadores possam comprovar, de forma relativamente simples, se é uma manifestação verdadeira ou fraudulenta.

Não se sabe muito bem em que ponto se encontram as pesquisas científicas com relação ao assunto. Cientistas que não estão ligados ao espiritismo pouco ou nada falam sobre o assunto, ou então rechaçam completamente o fenômeno, entendendo que ele jamais foi devidamente comprovado, apesar das inúmeras evidências coletadas.

O que se sabe ao certo é que o fenômeno continua a ocorrer, e a ser registrado, em muitos centros espíritas e em locais que nada tenham a ver com a doutrina. Resta esperar que pesquisas mais afirmativas e profundas sejam realizadas.

Pesquisas Recentes

Quando se fala sobre o fenômeno da ectoplasmia, geralmente são apresentados documentos e fotos antigas. A verdade é que esses casos foram muito examinados nos primórdios das pesquisas parapsicológicas, fotografados e registrados com o rigor científico possível na época. Depois, a impressão que se tem é de que as pesquisas foram um tanto esquecidas.

No entanto, existem grupos de pesquisa, espíritas ou não, que continuam procurando obter registros cientificamente válidos para o fenômeno, e muitas vezes com êxito. As pesquisas não são muito divulgadas: o que se ouve dizer é que os pesquisadores preferem realizar suas experiências sem grande alarde, mantendo os resultados conhecidos apenas de um pequeno grupo de interessados, evitando o escárnio que geralmente ocorre quando se fala sobre certos assuntos.

Nas pesquisas do dr. João Alberto Fiorini, que deverão ser publicadas em livro, ele informa que o ectoplasma é sensível à ação da luz comum (branca) e reage ao pensamento. Por outro lado, suporta bem as radiações pouco energéticas do espectro da luz, como o vermelho e o infravermelho. A temperatura é um pouco inferior à do ambiente em que se encontra o médium, e sua cor pode ser acizentada, branca, amarelada, malhada ou negra. Também se encontra em todos os estados, ou seja, invisível, visível, gasoso, plasmático, tangível, morfo, foculoso, filamentoso, sólido e estruturado.

Esperamos, em breve, poder apresentar algumas imagens e documentos obtidos a partir de pesquisas do gênero, no Brasil, assim como conversar com cientistas envolvidos na pesquisa parapsicológica, para que eles apresentem seus depoimentos a respeito e, quem sabe, algumas pesquisas científicas. (GS)

Fenômenos de Ectoplasmia

Ectoplasma: O ectoplasma pode exteriorizar-se em qualquer parte do corpo do médium, ao qual está vinculado estreitamente. Dirigido pelas forças presentes, o ectoplasma pode causar o fenômeno da telecinesia, que é a movimentação de objetos. Em alguns casos, foi comprovado que o ectoplasma saía do corpo do médium e, apoiando-se no chão, formava uma espécie de alavanca, conseguindo assim erguer objetos bem mais pesados do que o médium.

Ectoplasmia: Do grego ectós, "fora"; plasma, "coisa formada". Ectoplasmia designa o fenômeno; ectoplasma designa a substância.

Ectocoloplasmia: Termo que foi utilizado para definir a "modelagem" do ectoplasma para formar membros ou partes de pessoas, animais ou objetos.

Fantasmogênese: A produção ectoplasmática de um fantasma de pessoa, animal ou coisa, pelo menos aparentemente inteiro.

Transfiguração: A transformação do próprio corpo do médium por meio do ectoplasma.

Por Alex Alprim

Fonte: http://www.espirito.org.br/

jornalismo RBN


imagem: mundoespiritual.com.br


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